Como disse no post anterior, fui
para Eindhoven por causa dos voos baratos da Ryanair, que sempre chegam e partem
de lá para vários pontos da Europa. Cheguei de madrugada e a única coisa que vi
foi a estação central e a rua do meu hotel. Na volta, contudo, pude desfrutar da cidade
por mais tempo – fiquei por duas noites.
Estádio Phillips e Igreja |
No entanto, se você me perguntar
o que há para se fazer em Eindhoven, eu diria que não há muito o que dizer, a
não ser se você for fã de futebol. Aí poderá ir ao estádio Phillips e ao museu
do PSV Eindhoven e se divertir muito; se não, pode caminhar pelo centro
histórico que é pequeníssimo, e comer em algum restaurante bacaninha nos
arredores. A cidade, porém, não me pareceu muito atrativa. Em certas épocas do
ano, há shows e exposições que são bem concorridos e famosos. Eu não vi nenhum
nem outro. Soube depois que a uma hora de Eindhoven há uma cidadezinha
universitária e histórica legal chamada Mastriicht, que parece valer a pena
visitar. Então, se for estar lá por algum motivo, visite as cidades nos
arredores.
Mas você há de me perguntar:
“Então, Márcio, se não há muito motivo para visitar Eindhoven, por
Igreja de Santa Catarina |
E lá, nos confins dos Países
Baixos, eu encontrei dois motivos para escrever um post, mesmo que rápido,
sobre minha experiência em Eindhoven.
Mas antes de falar nisso, vamos
contar uma historinha. Pra começar, assim que cheguei, deixei a mala no
bagageiro do hostel e fui explorar a cidade. De lá até o centro, andando, são
mais ou menos 35 minutos. Escolhi esse lugar a 1 km do centro pelo valor e pelo
conceito – era uma fábrica da Phillips que se divide entre hotel e hostel, tem
uma boate e um bar bem bacanas, etc. Também a localização me parecia legal,
porque, segundo li, na região onde ele está há museus e galerias de arte. Eu
sabia que não teria tempo para isso, mas, ficar numa área de museus e galerias
sempre faz o ar parecer melhor.
Igreja de Santa Catarina |
A verdade é que, andando até o
centro, pude ver coisas interessantíssimas como alguns pequenos monumentos no
estilo carro de lata numa praça com caixotes que serviam de bancos de madeira; uma
chaminé de fábrica que a noite fica iluminada de vermelho com uma projeção de
laser no topo como se fosse fogo ardente. Há também, no percurso, o estádio da
Philips que se impõe no cenário como um gigante de aço e concreto, e, na
lateral dele, o mural com todos os jogadores do PSV – você pode sentar no
banquinho em frente aos jogadores e tirar uma foto com todos enquanto as
pessoas passam pela rua, te olham e riem, achando engraçado que alguém todo
empacotado vá se sentar ali naquele frio pra tirar uma foto com pessoas
pintadas na parede. Mas meu lugar favorito desses todos foi com certeza a
Igreja de Santa Catarina – construída no século 19, em estilo neogótico, tem
vitrais lindíssimos e dois órgãos. Na praça, em frente às portas da igreja há o
cemitério encontrado sob sua fundação onde foram descobertos mais de 1000
esqueletos de pessoas enterradas entre 1200 e 1850 e ao qual podemos ver
através de um vidro colocado sobre a calçada. Algo meio mórbido, mas
maravilhoso de se ver – história diante dos olhos. Como era época de Natal,
encontrei também um Christmas Market e todas as suas atrações culinárias e de
entretenimento.
Não comi nada dos stands postos
lá e a razão é uma só. Descobri um restaurante italiano chamado
Café da manhã no hostel |
Porque boas amizades são sempre
um plus na vida
O sol se pondo e o frio
aumentando me fizeram voltar para o hostel, na verdade, correr praticamente. O frio
estava castigando. Aquela entrada superbacana, aquele calorzinho confortável,
fizeram logo logo passar o gelo das bochechas e a sensação de mãos quebrando.
Embora eu goste muito dessas sensações extremas, é sempre um conforto estar no
calorzinho de “casa”.
Pois bem, foi lá no hostel que
conheci uma das figuras mais legais de minhas viagens, o David. Um austríaco
super boa-praça, que não é nada fã de seu país e queria mesmo era ser
latino-americano. Aliás, ele me disse
que a partir de março porá a mochila nas costas e vai percorrer toda a América
Latina começando pelo México, e só voltará para casa quando seu passaporte
estiver todo carimbado – genial, né?!
O David e eu conversamos muito
nesse dia e meio. O engraçado é ver como pessoas abertas ao mundo logo se
engajam numa amizade tão bacana que faz com que pareça nos conhecermos há anos.
De sorte que falamos sobre tudo: viagens, garotas, sonhos, planos futuros,
nossas famílias... e isso em menos de 24 horas! É sempre muito bom encontrar
pessoas assim, faz a vida parecer mais leve e interessante. No dia seguinte,
fomos andar por Eindhoven, apenas para conversarmos ao ar livre, pois o David
estava meio doente e, segundo ele, andar no vento frio desobstruía suas vias
respiratórias e fazia seu corpo ficar melhor.
Devo dizer que funcionou mesmo! O
cara ficou superbem assim que tomamos a rua e fomos direto para... o
restaurante italiano! Dessa vez, uma macorronada com nome italiano que eu não
lembro chegou à mesa e eu não consegui comer tudo! A garçonete (os olhos mais
bonitos que já vi!) tentava me forçar a comer dizendo que o pessoal iria cobrar
taxa de desperdício – aí ela falava alguma coisa como “gotta eat all, dude” e
ria. E eu, fui tentando, tentando, duas horas tentando terminar aquela comida
deliciosa e farta.
Presépio na igreja de Santa Catarina |
Eu tinha visto algumas fotos da
Kimi na internet, mas toda a moça de cabelos claros que aparecia na estação (lembrem que
eu estava na Holanda, imaginem minha agonia!) me fazia pensar: é ela?! Mas não,
tínhamos marcado na porta da Centraal Station e esquecido de dizer qual dessas
portas seria.
Depois de alguns minutos de
expectativa, vejo uma linda mocinha olhar para mim e dizer: Márcio? Nossa,
reconheci na hora: o rosto era a mistura da fisionomia dos pais, o sotaque
inconfundível e aquele sorriso que os baianos têm! Foi uma sensação meio
curto-circuito. Tipo, você tem na mente uma criança de dois anos e de repente
aparece uma moça de 20 e poucos – é pra dar pane no sistema eletro-motor.
A gente falou do ponto de
referência e rio muito com o vacilo. Então, como estávamos ambos na
cidade pela
primeira vez, voltamos a passear pelo centro. Já havia escurecido e o Christmas
Market não estava mais funcionando. Então, resolvemos procurar um restaurante
bacana (cujo nome não me lembro agora) para sentarmos e tomarmos um café quente
para esquentar a garganta e as mãos. Me surpreendi com a Kimi. Aquela bebezinha
de anos atrás havia se tornado uma moça altamente inteligente, com uma conversa
fluente e bem articulada e uma alegria de viver maravilhosa – tudo era motivo
de boas risadas! Tá bom, conhecendo a família dela, obviamente era de se
esperar isso, é uma coisa de genética. Mas, de qualquer forma, sempre são boas
surpresas ver os filhos puxando aos seus.
“Um dia, amigo, eu volto a te encontrar”
Levei Kimi até a estação e
esperei que ela tomasse o trem de volta para Mastriicht, onde está estudando. Nos
demos aquele abraço apertado bem ao estilo Bahia e eu arrisquei puxar da
memória meu antigo e enferrujado japonês dizendo “Mata Ashita” (até breve). Ela
vibrou, corrigiu minha pronúncia e partiu.
Vi o trem indo embora e me
lembrei que bem cedo de manhã – pelas 5 – seria eu a partir. Tomei meu caminho
de volta ao hostel, encontrei o David no bar para um café de despedida e muita
conversa e dali fomos seguir nossos caminhos: eu para a Polônia, ele para uma rave numa cidade próxima a Eindhoven - e dessas horas, o que fica é a sensação de que a vida é assim, cheia de surpresas
na chegada e corações aquecidos com amizades na partida.
2 comentários:
Às vezes vamos a lugares que não apresentam uma natureza ou construções atrativas, mas vamos pelas pessoas, pelas boas risadas que damos. Quando se pode ter tudo junto, é uma maravilha! Aproveite mesmo!
Verdade, Ana! Para mim Eindhoven foi bem isso o que você disse - pessoas interessantes e boas risadas!
Abraço!
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