Embora meu destino principal fosse
Amsterdã, precisei pernoitar em Eindhoven porque a Ryanair tem voos baratos
para lá partindo da capital dinamarquesa. E, além do voo com preço superbarato que eu
encontrei, ainda tinha a ideia de conhecer mais uma cidade holandesa além da
capital. Escolhi um hotel perto da Estação Central onde há várias acomodações
arrumadíssimas e com preço acessível. Procurei por um lugar onde pudesse fazer
o check-out depois das 10:00 pra poder dormir um pouquinho mais e relaxar antes
de me aventurar pelas ruas da louca capital neerlandesa.
Os trens para Amsterdam saem
regularmente da estação central e o valor da passagem de ida e volta
Rua do Centro de Amsterdã à noite |
Amsterdã
a cidade do “libera geral”?
Está no imaginário popular que a
capital holandesa é o lugar onde se pode fazer de tudo e de tudo se experimentar
sem medo de ser feliz. No entanto, acredito, pelo que vi e ouvi dos moradores
locais com quem conversei, que as coisas não são bem assim.
É certo que levas de turistas de todo
o mundo vão a Amsterdã para poder consumir maconha e outras drogas – em
qualquer lugar chamado “coffee shop” eles vendem maconha, space cake, misturas
alucinógenas e tudo o que os dopeheads podem desejar - sem serem incomodados
pela polícia ou coisa que a valha. Mas você, que gosta de queimar o velho
baseado, não se empolgue muito. Aqui vão os motivos: o uso da maconha não é
liberado na Holanda, é tolerado (assim como de outras drogas consideradas leves) em Amsterdã; você não pode queimar o becky em
qualquer lugar, só nos chamados coffee shops (que, em termos legais,
vendem drogas de forma “ilegal”, pois o uso de da maconha não é legal, é
tolerado (repito); ou pode consumir em sua casa e só em certa quantidade; você também não pode
sair da Holanda com maconha, pois se der azar e passar por uma inspeção
ocasional na “fronteira” ou num aeroporto, você estará na cloaca da cobra.
Portanto, se a razão pela qual você quer ir a Amsterdã é usar drogas, fique bem
atento às regras do país e da Comunidade Econômica Europeia.
Amsterdam Centraal |
Isto dito (precisava fazer este hiato
para contemplar algumas perguntas feitas por amigos), é preciso dizer que eu,
em particular, não estava nem aí para baseados holandeses, a cidade tinha muito
mais a oferecer para mim do que uma viagem psicodélica à base de cannabis. Por
exemplo: muita arte, muita cultura, muitas igrejas lindas, muitos canais e
muita comida.
Mais
do que space cake
Antes mesmo de sair da Amsterdam
Centraal, já estava encantado com a cidade. A estação, que fica no centro de
Amsterdam, estava toda decorada para as festas de fim de ano e as luzes
natalinas começavam a brilhar junto com o pôr-do-sol que se aproximava. Parei
alguns minutos para apreciar a arquitetura do edifício antes de tomar as ruas.
Rua no centro de Amsterdam |
Ainda na estação, percebi que eu não
tinha sido o único a querer passar o feriado de 25 de dezembro por ali (aliás,
o feriado lá é de 24 a 26!). A cidade estava lotada, de maneira que andar pelas
ruas puxando uma mala de rodinhas parecia uma tarefa complicada. Mas eu me
misturei à multidão e fui caminhando, fazendo mentalmente o percurso que tinha
visto pelo computador no Google maps 3D, por várias vezes, acreditando que mais
uma vez meu app iria me deixar na mão (como deixou!).
Da estação central ao meu hostel eram
apenas 10 minutos, mas eu alonguei esse período até quase uma hora, pois é
impossível caminhar pelas ruas de Amsterdã sem se impressionar com a arquitetura
que mais lembra aqueles bloquinhos de casas que a gente tinha na infância.
Alguns edifícios, aliás, são extremamente tortos ou se precipitam sobre a rua
dando a sensação de que vão cair a qualquer momento. Me lembro, inclusive, da
Maria e da Andreza, duas brasileiras com quem tive o prazer de compartilhar o
quarto, me chamarem a atenção para um dos prédios que vimos em nossas andanças
que pareceria que com qualquer espirro iriam desmoronar sobre a calçada, ou essa
era a impressão que causavam. Mas ele estava lá há décadas, enfeitando a, assim
chamada, Cidade do Pecado, de frente a um dos vários canais que a cortam como
veias pulsando num corpo libertino que desaguam pelo bairro luxurioso das luzes
vermelhas.
The
Red Light District
Me lembro de uma novela – acho que
Tieta do Agreste – onde havia um lugar chamado A Casa da Luz Vermelha, no qual
as mulheres-damas trabalhavam para se manter com o suor do seu trabalho, o qual
era repudiado pela gente de bem de Mangue Seco. Essas pessoas de lá se
chocariam ao passar pelo famoso distrito amsterdanês e verem expostas nas
vitrines mulheres de todos os tipos e gostos com suas formas exuberantes ou
exóticas, dançando de roupa íntima e combinações para todos os transeuntes
olharem, gostarem e comprarem seus serviços. Às vezes, uma delas abria a porta
e chamava o passante a entrar e experimentar as delícias do seu trabalho. Um ou
outro menos tímido sorria, olhava a multidão, perguntava o valor e sumia atrás
da cortina que era puxada sobre a janela da vitrine.
Centenas de pessoas, especialmente
homens jovens, transitavam pelo bairro na noite em que estivemos lá. Todos
olhando as vitrines com olhos arregalados e muito sorriso sem graça no rosto enquanto
caminhavam rua acima ou rua abaixo sem saber direito o que fazer ou em qual das
figuras messalínicas concentrarem sua visão. As luzes vermelhas das casas lembrando
desejos proibidos, o neon piscando aqui e ali na noite fria de Natal, sugerindo
o calor das paixões pagas com euros a mulheres quase nuas simulando sexo nas
janelas, o Museu do Erotismo, as águas frias passando pelo canal sob as ruas
quentes de De Wallen, é uma atração um pouco chocante para quem não pensa que o
ser humano, assim como produtos nas lojas, está à venda.
Mas, se por um lado a prostituição
reconhecida legalmente como profissão pode causar desconforto; por outro lado,
o direito dessas mulheres (e desses homens) em trabalhar e serem protegidos por
lei enquanto exercem sua profissão é algo louvável.
O Rossebuurt me pareceu um
grande mercado popular onde o produto exposto na vitrine tinha cara, corpo e
mente de várias raças e culturas, e me fez pensar nas pessoas brasileiras
sujeitas a tantos males por viverem na escuridão de seus misteres corpóreos.
“O
que é feito não pode ser desfeito, mas podemos prevenir que aconteça novamente”
Casa de Anne Frank |
Ir à Amsterdã é se encantar com seus canais,
com a ubiquidade de suas bicicletas, com a arquitetura de seus prédios e
praças, com a amabilidade de seus moradores, com a cuca fresca de quem passa
por nós. Mas é também relembrar um dos episódios mais tristes da história da
humanidade.
Desde adolescente, quando li o Diário de
Anne Frank pela primeira vez, senti que apesar de sermos capazes de coisas
incríveis, somos também capazes de coisas tenebrosas como odiar alguém pelo
simples fato de ele/a ser diferente de nós. A história pungente narrada há
várias décadas por uma menina da mesma idade que eu tinha quando li suas
memórias ficou gravada em minha mente de forma dolorosa e profunda – não apenas
por causa de Anne Frank e sua família, mas pela extensão daquilo, por saber que
milhões de pessoas passaram pelas mesmas dores, aflições, desespero e medo, e
que foram vítimas de uma morte terrível por causa de um louco que pregava a
diferença entre humanos e humanos – graças a Deus pela antropologia e pelos
estudos de DNA, os quais histórica e biologicamente provam que tal teoria da
superioridade ou inferioridade de “raças”, além de ser estúpida, é totalmente
mentirosa.
A casa é uma recriação baseada na narrativa
de Otto Frank, não é mobiliada, e também não é no
lugar onde a família foi
escondida por amigos holandeses. No entanto, subir aquelas escadas e ler a
informação a respeito do cômodo, ler trechos do livro, realmente exerce sobre
nós uma sensação esmagadora. Ver e estar no ambiente de cômodos pequenos e
apertados onde a família teria vivido, fugindo diariamente da SS por tantos
meses, é ser transportado de volta para as páginas que Anne Frank legou à
humanidade. A Casa de Anne Frank é sem dúvida uma recomendação que faço a quem
estiver na cidade.
Prédios desalinhados em Amsterdam |
Mais informações neste endereço:http://www.annefrank.org/en/Museum/Practical-information/Online-ticket-sales/ eles dizem que indo à noite você pode
comprar o ingresso na portaria mesmo, mas que não é garantia. Nós compramos
assim que chegamos ao museu (umas 20:00h.) e foi tudo de boa, pouca gente, etc.
Pois
tudo o que é bom, sempre acaba... em comida italiana
Restaurante Il Palio Amsterdam |
Os dias em Amsterdã foram bem bacanas.
Conhecer uma das melhores cidades do mundo, uma das mais seguras e tão rica em
história e cultura, com gente tão bacana e pronta a ajudar é, sem dúvida, uma
viagem que a gente não esquece tão facilmente.
E entre as coisas inesquecíveis, está uma
boate no meio do caminho entre o restaurante IL PALIO e nosso hostel. Abre-se
um parêntese aqui. O restaurante Il Palio é um lugar que mais do que recomendo aos
amantes da boa e farta comida e dos garçons engraçados e amigáveis. As meninas o
haviam descoberto no dia em que cheguei à cidade e me convidaram para jantar
com elas à noite. Pedimos uma lasanha pensando que era um quadradinho de dois
no prato, mas o que veio à mesa encheu até o dia seguinte. Aliás, no dia
seguinte também estivemos lá para uma pizza gigantesca individual – tudo a
apenas 5 euros! Mais informações aqui: https://www.facebook.com/Pizzeria-IL-PALIO-1555741284660809/?fref=ts
Pois bem, depois de sairmos do restaurante
com os cumprimentos e apertos de mãos calorosos de
Levent, o rapaz que nos
atendeu sempre que estivemos lá, fomos procurar uma festa para ir. Mas em
Amsterdam, você não procura festa, ela te encontra. Ouvimos um som vindo de uma
das casas pela rua onde passamos, paramos, fomos convidados a entrar, entramos
sem pagar nada e sem consumo mínimo. Quando chegamos lá, todo mundo dançado,
gritando, vivendo. Traduzindo o espírito da cidade nas luzes do estroboscópio e
som tecno que a DJ tocava.
Paulo, um soteropolitano pelo mundo |
Gostou? Então divulgue.
O
que ver e fazer em Amsterdã:
Albert Cuyp Market
Museu Van Gogh
Museumplein
Rijksmuseum
Vondelpark
Leidseplein
Dam
Basiliek van H
Nicholas
Nemo Science Museum
Maritime Museum
Jewish Historical
Museum
Casa de Anne Frank
Nieuwe kerke
Palácio real de Amsterdã
E, obviamente, qualquer coisa que você desejar, Amsterdã tem de
tudo!
Um comentário:
Excelente texto, um dia com certeza irei!
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