sexta-feira, julho 06, 2018

Londres ao pôr do sol


Devo confessar que nesta altura do campeonato não vi sequer um jogo da Copa do Mundo na Rússia. Eu sei, o Brasil está em polvorosa, carros e janelas enfeitados com bandeiras, ruas decoradas com bandeirolas, asfaltos e sarjetas pintados por todos os lados mostrando esse patriotismo nosso dos quatro em quatro anos por causa do futebol.

Uma lindeza à qual estou totalmente alheio, aliás, Copa do Mundo FIFA para mim deixou de ter sentido desde a derrota para a França, em 1998, e o patriotismo, bem, depois do chute no saco que o PT e todos os outros Ps da política brasileira me deram, não tenho muito o que comentar.

Mas essa semana, ao ver na TV a comemoração da vitória inglesa sobre a Colômbia nas ruas da Inglaterra, me lembrei das últimas férias que passei por lá, depois de visitar Praga, comemorando os primeiros dias do Ano Novo com esse povo alegre e festeiro. Bateu mesmo uma nostalgia imensa e uma saudade apertada do país da Rainha Elizabete e dos muffins de chocolate.

English breakfast no YHA London Central Hostel 

Preparação para o Ano Novo Chinês em China Town, Londres
TB Tower - Londres
Mulher alimentando esquilo no Regent's Park
A Inglaterra é um país maravilhoso, cheio de sites históricos e paisagens paradisíacas, e Londres, sua capital e principal cidade, é um daqueles cantos do mundo de que os Beatles parecem estar falando na música In my life, de 1965: “há lugares que eu vou lembrar por toda a minha vida”.

Afinal, não basta apenas ser uma cidade organizada, limpa, segura, arquitetonicamente impressionante, onde se pode caminhar com os olhos voltados para todas as partes – porque tudo é um espetáculo às vistas: os prédios antigos se impondo na urbe, os parques verdes onde se pode alimentar esquilos e pássaros e ver os cisnes da rainha flutuando serenos e majestosos nos lagos e ponds.

Além de sentir cheiros e sabores de todos os recantos do mundo e se ouvir, caminhando pelas ruas, nas estações de metrô e pontos de ônibus, os sotaques e línguas mais diversos nos rostos geralmente plácidos e cheios de gentileza convivendo, em regra geral, na maior harmonia. Caetano veloso não mentiu! Mas diferentemente dele e de sua “London, London”, meus olhos não procuravam discos voadores no céu.
London Eye ao pôr do sol, Londres

Porque o céu em Londres tem mais para oferecer do que discos voadores psicodélicos. Num dia sem chuvas, as tonalidades de azul por toda manhã e as cores vibrantes do crepúsculo variando do laranja encarnado ao rosa tênue enquanto o sol vai lentamente desaparecendo por trás do Parlamento e da Abadia de Westminster, colorindo o Big Ben, o London Eye, o Tâmisa, a London Bridge e os olhos dos mais de 10 milhões de habitantes e milhares de turistas agradecidos de estarem ali, não tem preço.

Nem William Turner (1755-1851) conseguiu nas suas vibrantes pinturas retratar as cores do ocaso de Londres no inverno. Me lembro que certo dia, sentado no Hyde Park, o ar úmido cheio de cristais de gelo, o sol se pondo no horizonte por entre as árvores e o som dos pássaros, parecia que a luz lentamente se esvaia num gradiente de cores que eu podia tocar e fruir com todos os sentidos do meu corpo – uma experiência sensorial jamais capitada por pincéis nem câmeras fotográficas. 


The Queens Walk - London Eye, Parlamento e Big Ben ao fundo
E quando a noite cai, não se sabe para onde olhar: se para o céu estrelado, repleto das constelações que só se veem do hemisfério norte e que para nós aqui do sul são lindas desconhecidas, ou se para o show de luzes e cores epiléticas do Picadilly Circus para onde todos afluem em busca de diversão, de comida e de romance.

Não é à toa que aos pés de Eros, quando chega a noite, fica uma multidão sentada, conversando, rindo, comendo, descansando de tanto caminhar pelos arredores, pois, em Londres, todos os caminhos levam ao agitado e vibrante Picadilly Circus - uma visão tão diferente do que deve ter sido durante os ataques dos nazistas na Era Churchill.
 
Estátua e Fonte de Eros, Picadilli Circus, Londres
O choque entre a Londres presente e do passado nebuloso da Segunda Guerra Mundial pode ser sentido numa visita ao The War Museum. Ali se é capaz de reviver a sensação horrível da batalha nas trincheiras, criadas como exposição dos horrores da guerra, através das sombras dos soldados em ação, projetadas na parede, enquanto o som de bombas e metralhadoras cortam o ar.

É mesmo como disse meu querido amigo Marcos, a quem fui encontrar no museu: “uma imagem que me arrepia sempre que venho aqui”. Por algum consolo, lá eu descobri que devido a minha altura não estaria apto a participar da guerra caso fosse inglês e vivesse na década de 40.


Museu da Guerra, Londres
Big Ben, Londres




A Guerra, graças a Deus, passou mas Londres continuou linda, viva, a cada dia florescendo e encantando das formas mais diversas. Seja na decoração para o ano novo chinês na China Town, seja nos parques itinerantes espalhados pela cidade, nas feiras livres ou nos pubs onde a alegria é a dona da festa.

Londres encanta. Por onde quer que os pés te levem ou os trens subterrâneos, ônibus vermelhos de dois andares e táxis pretos te transportem, o desejo é de repetir as palavras de Edmund Spencer (1553-1599): “Doce Tâmisa, corra suavemente até que eu termine minha canção”. e se deixar perder no marulho das águas desse rio que vão fluindo como sangue nas artérias da linda capital inglesa.

The Queen's Walk ao pôr do sol

Abadia de Westminster e Parlamento




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sábado, junho 30, 2018

Canto da saudade



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Imagem: Internet
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Parece que foi ontem
Que eu olhei seus olhos
- Profundo, demorado -
E você correspondeu.

Cada traço, poro, gota de suor
gravados na lembrança...
E a imagem de seus lábios
- Onde eu quis viver -,
A cada dia mais lindos,
Fazendo tremer meu corpo inteiro.

Ah! Quantos suspiros nascendo n'alma!
Quantas palavras caladas no peito!
Quantos "Não vá agora", "Só mais um minuto!"
Quanto sussurrar "Espere! não parta ainda!"
Tantos pudores e tantos medos.

Parece que foi ontem
Que eu senti no mais profundo
A flecha violenta, cruel, tremenda, ardendo,
Me incendiando todo, tudo,
Quando seus olhos se demoraram nos meus.

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Feels like yesterday
That I stared into your eyes
- deeply, lingering -
And you stared back.

Each feature, each pore, each drop of sweat
Seared in my memory...
And the image of your lips
- Where I wanted to for ever dwell -,
More and more beautiful every day,
Making my whole body tremble.

Ah! How many sighs springing from my soul!
How many words silenced in my bosom!
How many "Don't leave now", "Wait a little longer!",
How much whispering "Hold! don't go yet"!
How much propriety and fear.

Feels like yesterday
When I felt in the most hidden parts of me
The violent, cruel, overwhelming, ablazed arrow
Inflaming me whole, all of me,
When your eyes lingered into mine.

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Sembra essere stato ieri
Che ho guardato i tuoi occhi
- Profondamente, lentamente -
E tu m'hai corrisposto.

Ogni traccia, poro, goccia di sudore
incisi nella memoria...
E l'immagine delle tue labbra
- Dove volevo vivere -,
Ogni giorno più belle,
Facendo tremare tutto il mio corpo.

Ah! Quanti sospiri sono nati nell'anima mia!
Quante parole silenziose nel petto!
Quante "Non andare ora", "Solo un altro minuto!"
Quanto sussurrare "Aspetta, non andare ancora!"
Cosi tanti pudori e tante paure.

Sembra essere stato ieri
Che mi sentivo nel profondo
La freccia violenta, crudele, tremenda, bruciante,
Bruciandomi tutto intero,
Quando i suoi occhi indugiavano sui miei.
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sexta-feira, junho 22, 2018

Praga - A charmosa capital da República Tcheca


"Foram necessários seis acasos para levar Tomas até Tereza, como se, por conta própria, nada o tivesse conduzido até ela", diria o filósofo tcheco Milan Kundera em seu livro "A insustentável leveza do ser". No meu caso, foi preciso apenas uma promoção da Airbaltic, no momento certo, para me levar de Helsinque ao encontro de Praga, a charmosa capital da República Tcheca (ou da Tchékia, como a chamam agora). 

Já na saída do aeroporto, a neve caindo fina e rara sobre a cidade, a sensação era de puro encantamento. As imagens de filmes, fotos, blogues de viagens; as histórias de livros e narrativas de amigos que visitaram Praga, fervilhavam em minha cabeça. Dentro do trem que me levaria ao coração da Cidade Velha, eu via as construções passarem coloridas, suaves, e os rostos e corpos se moverem elegantemente pelas ruas limpas e organizadas.

Praga - a bela capital Tcheca
Uma imagem diferente da que eu costumava ter quando criança. Semelhantemente a "Budapeste", "Praga" era um nome que no fundo da minha cabeça infantil me remetia a um quadro catastrófico do leste europeu - "por que essas cidades tinham de ser conhecidas por palavras que, em português, eram tão ruins?". Eu me perguntava em pequeno lembrando das narrativas apocalípticas de pragas e pestes e fomes em toda a parte.

Além disso, a lembrança da diretora da minha escola no Ensino Fundamental entrando em sala para dar sermão toda vez que a turma se comportava mal e terminando sua lição de moral com a célebre e inesquecível frase, após a qual ela levantava a sobrancelha esquerda: "Que nosso padroeiro, o Menino Jesus de Praga, vos dê juízo", com certeza devem ter contribuído para meu estranhamento com a cidade.

Assim que saí do trem, esses pensamentos estranhos e intrigantes da infância logo cederam lugar a um deslumbramento cada vez maior, pois, com horas de procura no booking.com e paciência para buscar preço e lugar agradáveis, encontrei um hostel que ficava exatamente no coração da parte antiga da capital tcheca, na chamada Rota Real, de onde eu teria acesso a pé aos monumentos e sites turísticos mais badalados.

A rua em que se localiza o Hostel Little Quarter é em si mesma já uma atração por conta da diversidade de restaurantes, lojas de souvenires, mercadinhos e embaixadas que lá se localizam - incrivelmente o barulho eventual das ruas não interfere no silêncio dentro do edifício. 

Centro antigo de Praga, Tchekia
O centro antigo de Praga é uma mistura de construções barrocas e góticas que coabitam harmoniosamente nos transportando além do tempo por ruas de paralelepípedos e esculturas da fé católica espalhadas não só dentro das igrejas, mas em monumentos através das praças e pontes.

Destas, a mais famosa é a Ponte Carlos (Karluv Most, construída entre 1357 e 1402), a mais antiga do país, atravessando parte do rio Vltava, ligando a Cidade Antiga à Cidade Pequena (Malá Strana), considerado o bairro mais charmoso da capital tcheca, que abrigou a nobreza do país durante muito tempo, e onde está o Castelo de Praga.

É necessário passear pela ponte sem pressa, observando não só sua beleza arquitetônica ou o cenário deslumbrante que se tem da cidade, mas detendo-se pelo caminho para admirar a arte sacra representada nas 31 imagens dos santos e mártires e as dezenas de bancas de vendedores locais de onde se pode comprar não apenas quadros belíssimos e artesanato local, mas também conhecer a história marcada em cada pedra ao longo do caminho.
Ponte Carlos e Cidade Velha vistas da igreja de São Nicolau

Casario da  Cidade Velha à entrada da Ponte Carlos
A Ponte Carlos, por ser um dos mais famosos cartões postais de Praga, fica lotada de transeuntes, que tanto são pessoas locais, como turistas, e também mendicantes. Por isso, apesar de ser uma cidade com baixíssimo índice de violência urbana, é prudente guardar carteira e passaporte em lugar seguro e de difícil acesso às mãos rápidas dos raros, mas reais, larápios.

Do outro lado da Ponte fica Malá Strana, foi lá que eu saboreei duas das melhores e mais baratas (5 Euros) refeições dessa viagem. As ruas estreitas e cercadas de construções sóbrias e vitrines coloridas pululam de restaurantes, pubs e bares. Fui a dois ou três deles e o atendimento foi impecável. Aliás, diferentemente do que dizem do leste europeu, em Praga eu fui muito bem tratado por pessoas sempre muito gentis comigo.

Uma delas, vendedora de uma loja de souvenires, por exemplo, me fez sentir em casa de uma maneira muito insólita. Quando cheguei para comprar meus sine-qua-non imãs de geladeira, ela me perguntou de onde eu era e quando lhe respondi, ela, toda serelepe, gritou em português arranhado: "Eu amor Maria Betânia!" Aí, ao dizer que eu vinha da Bahia, assim como Betânia, ela disse que iria me dar um presente por conta da casa.

"Para o brasileiro da terra de Maria Betânia", disse passando à moça do caixa um enorme imã redondo que também serve de abridor de garrafas. Eu sorri, paguei pelas outras coisas e saí alegre e agradecido a Betânia por me representar ali naquele canto do mundo. Não satisfeita, ao me ver sair, a moça alegre e desinibida, pôs as mãos nas cadeiras e soltou em inglês: "Eu sou a Anita de Praga! Diga a seus amigos no Brasil!". Eu apenas ri, não sabia quem era Anita até a hora que voltei ao hostel.


Foi engraçado conhecer uma cantora brasileira por intermédio de uma moça da Tchekia. Anita para mim era um nome desconhecido, mas que em um só dia, ouvi três vezes por bocas de pessoas de nações diferentes. No hostel, ao me ver com uma camisa do Brasil, um rapaz coreano disse que era fã de Anita e me mostrou sua música favorita, a qual ele cantava (ou quase) em português.

Mais tarde, dois "conterrâneos" portugueses que estavam no mesmo quarto que eu também me falaram da carioca que estava fazendo sucesso pelo mundo e que eu, com minha cara de nerd fã de Arquivo X, nunca tinha visto mais gorda (ou mais "gostosa", como diriam os gajos de lá). E assim, descobri um pouco mais do Brasil quando estive longe dele e entendi que nesse mundo globalizado a indústria cultural, para fazer Adorno e Horkheimer se mexerem nos túmulos, é uma bênção!
Troca da guarda - Praga
Aproveitei minha estadia em Praga para encontrar meu amigo George. Nos conhecemos na adolescência através de uma daquelas comunidades do extinto ORKUT e desde então, por mais de dez anos, desenvolvemos uma amizade bacana.

Agora, casado e pai de uma menininha linda, o George deixou o dia de trabalho e me levou pra conhecer a parte nova da cidade onde há esculturas muito interessantes e o prédio mais famoso da República Tcheca, chamado de o Prédio Dançante.

A cidade nova é muito interessante de se ver, mas para mim, não difere muito de todos os outros lugares em qualquer cidade do mundo. O que eu gosto mesmo é ver o casario centenário, as igrejas antigas e sentir o cheiro de mofo dos livros e quadros - mesmo Praga conseguindo aliar o velho e o novo de forma tão perfeita.

Eu e George no confortável shopping center de Praga
Na capital da República Tcheca, especialmente na Cidade Velha, vem à mente uma frase marcante de A insustentável leveza do ser: "Tudo é vivido apenas uma vez e sem preparação". Apesar de todas as cidades serem mais ou menos parecidas, apesar das pessoas, a despeito de suas culturas e etnias, serem fundamentalmente iguais, em Praga não conseguimos nos preparar o bastante para fruir desse conhecimento sem algum estranhamento.

A sensação de proximidade humana e a ideia do blasé de estar inserido no contexto urbano universal não se sustentam. Parece mesmo que tudo é novo, sendo velho e antigo. Parece que cada passo sobre os paralelepípedos, cada olhadela sobre a tinta dos prédios, cada floco de neve caindo sobre o Cristo crucificado na Ponte Carlos, cada sorriso de estranhos que se reconhecem em nosso deslumbramento são coisas completamente novas.

O filósofo grego Heráclito estava certo, ninguém se banha no mesmo rio duas vezes. Em Praga, ninguém vê o mesmo Vltava, nem respira o mesmo ar, nem ouve a mesma música ou saboreia o mesmo prato duas vezes - tudo se renova como se ressoassem em nossa mente e se espalhassem pelo corpo as notas do Má Vlast de Bedrich Smetana - suave, espiritual, demasiadamente humano. 




O que fazer/ver em Praga em dois dias: Zaméky Schody, Matyasóva Brana, Prague Castle, Golden Lane, Velká jižní věž katedrály, St. George's Basilica e arredore, St Nicholas Church, Kafka Museum, Charles Bridge, The Bethlehen Chapel, Cidade Velha, The Powder Tower, Jewish Museum and Synagogue, Franz Kafka Monument, Prédio Dançante.

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Criança sequestrada em 1988 procura família biológica

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