segunda-feira, fevereiro 20, 2017

Lituânia - o país das jóias de âmbar - parte I


Eu li num texto de David Whitehouse para a revista ShortList que “o lugar aonde você vai de férias diz muito sobre quem você é”. Fiquei pensando em quem eu seria quando meu ônibus (https://ecolines.net/international/en 16 euros) chegou à estação rodoviária de Vilnius por volta das 7 h. numa manhã fria e coberta de gelo - um aventureiro (para alguns amigos, sim), um desbravador (não em Vilnius), um louco (para os meus amigos lituanos, sim), um curioso viajante (talvez), ou talvez nada disso/tudo isso junto. No entanto, a razão principal pela qual eu tinha ido àquele país, que de outra forma teria ficado apenas nas minhas aulas de geografia e história pós-Perestróica, foi o Mindaugas e a sua família, os quais eu encontraria pela primeira vez após muitos anos.  

Os momentos que antecederam o encontro, desde minha saída da estação Warsawa Zachodnia, na capital da Polônia, até ali foram de muita expectativa e ansiedade. Já dentro do ônibus, vendo a estrada coberta de neve, a silhueta de pinheiros escurecidos pela noite, algumas casinhas espalhadas aqui e ali com suas luzes vacilantes, fiquei pensando no que dizer: “Olá, pessoal, eu sou o Márcio”, “Olá, pessoal!”, “Olá!”, “Márcio”, “... (sorriso amarelo)...”. Cheguei à conclusão de que deveria deixar as palavras surgirem naturalmente. Fitei meus olhos no escuro do mundo e adormeci.

Percorremos 9 horas de asfalto liso e neve durante a noite, o cenário invernal e escuro, quieto e “com tudo morto” como diria meu amigo, me havia feito dormir como pedra num ônibus cuja única voz a ser ouvida era a da comissária de bordo quando paramos em alguma das 3 ou 4 estações pelo caminho até a Autobusu Stotis, em Vilnius.

Desci do veículo ainda sonolento, o sol ainda não havia despontado e a neve caía fina em meu sobretudo, caminhei em direção ao bagageiro de onde o motorista arrancava as malas e despachava os viajantes um a um, da forma mais ordeira que já vira. Peguei a minha, respirei fundo aquele ar gelado que entrava em meu nariz, inundava meus pulmões enquanto eu puxava minha bagagem neve acima em direção à saída da estação. Nesse meio tempo, vi vindo em minha direção aquele rapaz alto, olhos claros, usando um gorro cinza e confirmando a suspeita com a pergunta: “Márcio?!”. Sorri e fui na direção dele. Afinal, não tinha sido minha a primeira palavra.

O Mindaugas e eu havíamos nos conhecido há alguns anos pela internet e desde então eu fazia planos de ir visitar a ele e sua família em Vilnius. Este ano, tudo deu certo e naquela manhã lá estávamos nós, no frio lituano a apertar nossas mãos e finalmente ver-nos em pessoa. Por todas as vezes que conversamos ao longo dos anos, a minha impressão sempre foi de que ele era um cara centrado, muito gentil, que sempre tem as palavras exatas e cujos conselhos são daqueles que, quando ouvimos, vamos no caminho certo. Impressões que foram confirmadas nos poucos, mas duradouros, dias de convivência que tivemos cruzando o país num frio que variava de entre -8 a -19 graus C.

Centro Antigo de Kaunas

Percorrendo a Lituânia
Não havia feito planos para explorar a cidade de Vilnius. O único que tinha era conhecer o meu amigo ao vivo e a cores, tomar um café com ele e sua família em algum restaurante quentinho e, se calhasse, ver algum monumento o qual eu pudesse fotografar para o meu blog, afinal, era plena segunda-feira no mês de janeiro e quem estava de férias era eu, não queria tomar muito o tempo deles. Mas, para minha surpresa, o que eles tinham em mente era algo bem diferente!

Assim que entramos no carro para fugir do frio intenso que fazia, me contou que iríamos ficar apenas algumas horas em Vilnius e que de lá partiríamos para lugares que eles haviam pensado que eu pudesse gostar e nos quais pudesse buscar inspiração para meus novos livros.

Aliás, eles estavam muito surpresos e preocupados com a minha ida à “fria e cinza” Lituânia de inverno, uma vez que eu vinha de um “país exuberante e cheio de cores e luz e calor do sol”.

E, apesar de eu dizer que não se preocupassem com isso, porque ali tudo era lindo e novo e surpreendente para mim, eles não conseguiam acreditar que eu fosse gostar de estar naquele lugar congelante.

Após rodarmos um pouco pelo Centro Histórico da cidade, Mindaugas me olhou, perguntou se eu estava preparado, ligou o carro e partimos a caminho de Kaunas, a 105 km de lá aonde chegamos com o sol ainda tímido e frio no horizonte.

Kaunas me pareceu um lugar bonito e bem tranquilo. Dividido em duas margens pelo Rio Neman, tendo o Centro Histórico com uma arquitetura renascentista e barroca de admirar, destacando-se aí o edifício da prefeitura (iniciado no século 16), nos convidando à contemplação e à caminhada. No entanto, no frio que fazia, preferimos nos ater à contemplação rápida, indo a uma das colinas de onde podíamos ver quase toda a cidade. Àquela altura, a antiga capital temporária da Lituânia e sua segunda maior cidade atualmente parecia um quadro desses que a gente vê à parede da sala de estar de nossas avós.


Museu do Âmbar de Palanga - Klaipeda
Parque à entrada do Museu do Âmbar
Após mais algum tempinho por Kaunas à procura de um lugar para comer, partimos rumo ao oeste onde eu pude constatar que as estradas da Lituânia são extremamente bem conservadas e sinalizadas, fazendo imenso gosto percorrê-las – íamos na direção do Mar Báltico, para o balneário de Palanga.

O balneário fica situado na antiga Rota do Âmbar, a qual existe desde tempos pré-históricos e que por milhares de anos foi o centro de escoamento e comércio do chamado “Ouro do Norte”.

Nossa primeira parada foi o Museu de Âmbar, lugar onde se encontra um riquíssimo acervo que vai desde material pré-histórico com fósseis envolvidos na resina dourada a artefatos encontrados em escavações e que eram usados pelas populações locais através dos milhares de anos até joias originais e exclusivas feitas por artesãos regionais.

O museu se encontra num palácio construído em 1897 o qual era a residência oficial do conde Feliksas Tiskevicius, e é rodeado por um imenso e lindo parque que no inverno está todo coberto de neve, embora os patinhos continuem a nadar nas lagoas espalhadas pela área.

Percorremos todo o museu, visitando todas as exposições – o museu também é palco para shows em determinadas épocas do ano. Fiquei impressionado com a riqueza do acervo e com o cuidado na produção de cada peça de joia e de arte feitas com aquele material. Para mim, que pensava que o âmbar era apenas uma resina que envolvia o mosquito pré-histórico do filme Jurassic Park, ver todas aquelas pequenas obras de arte e joias feitas a partir desse material foi fascinante.

Surpreendente também foi ver os filhos adolescentes do meu amigo extremamente interessados em conhecer a história do lugar e os objetos que víamos. Fiquei muito impressionado com os dois. Além de serem extremamente gentis e terem uma comunicação bem articulada, inclusive em língua estrangeira (inglês era a nossa língua comum), se mostraram muito atentos e desejosos de aprendizado, fazendo valer o ditado que diz que “quem sai aos seus não degenera” – vi ali o reflexo do Mindaugas e da Ieva na educação de seus filhos.
Fósseis em âmbar - fonte: internet

Colares de âmbar - fonte: internet


Ao sairmos do museu, a Ieva me perguntou se conseguia ouvir o som. Paramos. Comecei a escutar algo como se fosse um vento, um gerador, um ar-condicionado muito forte. Não identifiquei a origem nem o que seria. Ela logo me explicou que o som era de ondas, pois estávamos muito próximos ao mar. Para mim, aquela revelação foi nocauteante, pois diante de nós o chão estava coberto de gelo e neve – eu ouvia o prunk prunk da neve debaixo das nossas botas – e o mar estaria logo ali, após uma pequena colina com areia bege e ondas quebrando contra a praia! Quase fui correndo para ver aquilo com meus próprios olhos.
Klaipeda
Em um só lugar eu conseguia ver gelo e neve, mar e areia fina soprada pelo vento. Ver aquela praia, sentir o cheiro do mar, o vento gelado do Báltico soprando em meu rosto enquanto caminhávamos em direção ao píer e o sol lentamente baixava no horizonte, ali com aquela família maravilhosa que tinha planejado junta para mim uma viagem que eu mesmo nem pensara em ter, ouvir suas histórias, e assim conhecê-los melhor e deixá-los conhecer a mim também, me trouxe uma sensação de gratidão, um sentimento de alegria e paz como em poucas vezes nos ocorre. Paramos à beira do píer. Olhei para os meus amigos e disse a palavra que o “Mr. King” (como passei a chamar o filho do Mindaugas) havia me ensinado recentemente: /Átchiu/ significando “obrigado”, e os ouvi dizer: "se você está feliz, então estamos felizes".

Deixamos o píer e fomos andando em direção ao carro. No caminho, todos famintos, paramos para comprar um salmão defumado delicioso que era vendido bem ali, naquela praia, que é famosa nos meses de verão, enquanto eu aprendia palavras novas daquele idioma sonoro e meus amigos me perguntavam se estava pronto para nossa próxima experiência lituana.


Para mais sobre o Museu do âmbar: http://www.pgm.lt/Gintaro_muziejus/titulinis_en.htm

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