Minha viagem para Roma desde o comecinho se mostrou meio torta. Tinha a intenção de passar um dia com meus amigos Fabrício e Gabi em solo italiano, mas depois que comprei a passagem, percebi que um bug (?) no site da Ryanair transferiu minha viagem para um dia após a data desejada, o que fez com que nós não nos encontrássemos por questão de poucos minutos. Mas, va bene, "somos tao jovens e temos todo o tempo do mundo". Ano que vem tá aí já, às portas.
Café da manhã depois de uma noite terrível
Frustração primeira passada, vamos lá. Deixei o aeroporto de Lisboa rumo à Cidade Eterna, sonhando com todos aqueles filmes que minha mãe assistia e que fazia a gente ver junto com ela. Destes, o que melhor me recordo é Candelabro Italiano - uma história bonita do tipo que já não se faz mais hoje em dia, e a música de Pepino de Capri que insistia em tocar em minha cabeça: "Non credevo possibile, Se potessero dire queste parole: Al di lá del bene più prezioso, ci sei tu. Al di lá del sogno più ambizioso, ci sei tu. Al di lá delle cose più belle!". Mas era possível, era preciosa, era bela! era Roma se aproximando de mim entre turbulências e chacoalhos - fim de ano no hemisfério norte é brabo! - o piloto pedindo desculpa pelo atraso, e o avião voando no céu por uma
hora e tantos extras por causa do mal tempo, e o piloto mudando a rota do avião, e o povo rezando com medo de morrer, e o avião pousando em outro aeroporto, e o povo aplaudindo o piloto de novo. E enfim nós passando pelo portão de desembarque às três horas da manhã e nenhum meio de transporte disponível a não ser táxi. Abri minha carteira, meus olhinhos apertados, coração apertado, meus eurinhos lá dentro se escondendo pra não sair. Mas não teve jeito, era dar uma de Angélica e pagar 40 contos pra ir de táxi ou ficar no aeroporto até o sol raiar, cansado, com sono, com fome, com sede, com vontade de ir no banheiro - era melhor deixar de ser muquirana e ir pro hostel. (Aviso aos navegantes: quando você desembarca no aeroporto, uma galera de taxistas não oficiais se aproxima de você. É sempre mais seguro não pegá-los. Procure a fila de táxis oficiais).
Fórum Romano
Lá vou eu todo prosa aproveitando o motorista falastrão para pôr meu italiano em dia, falando de pizza,
Fontana di Trevi
lasanha, moto vespa, Ferrari... enquanto aquelas ruas todas iluminadas pro Natal iam ficando para trás e nós chegávamos ao meu destino, a minha via crucifixo, a minha caldeirinha! Ficaram curiosos com tanto drama? Vocês não sabem da missa a metade! Foi o seguinte: reservei o hostel pelo booking.com, como fiz com todos os outros, mas chegando lá, para minha enormensa (isso mesmo!) surpresa, o indiano que me atendeu depois de ficarmos batendo na porta de vidro até os dedos caírem congelados, depois do taxista ligar trocentas vezes pro número que constava na minha reserva, me disse que ali naquela rua bonita e iluminada do centro de Roma, a qual consta como endereço do hostel Carlitos na página do booking.com - inclusive com fotos da dita rua e tudo mais -
Basílica de Santa Maria Maggiore e Piazza Dell'Esquilino
a gente só fazia o check-in, que eu teria de andar uns 4 minutos para o meu destino, pois ali era o Hotel Des Artistes. Em outras palavras: Comprei gato por lebre! Agora imaginem vocês que eu, o cara que se perde com GPS na mão, fui lançado aos leões da madrugada gelada de Roma, com um mapa do local aonde eu devia ir e com a recomendação: você vai passar pela embaixada russa, eles têm armas, etc., mas você não tem nada que ver com eles. Apenas siga seu caminho. Eu com fome, cansado, com sede, com medo, com quase dor de barriga. Pois fui lá, mapinha na mão, as pernas
Motos Vespas em frente à Piazza Dell'Esquilino
bambas e a noite de aventuras apenas começando. Me perdi, rodei uma meia hora até finalmente achar a embaixada russa. Contornei a tal e entrei na rua do Carlitos - tudo escuro, nenhuma placa indicativa, nada de ver o número. O que eu fiz? Caminhei em direção ao militar de uns 3 metros de altura que portava uma metralhadora na mão dizendo em alto e bom italiano: "Senhor, me ajude, eu sou brasileiro, estou perdido, não acho meu hostel. Não atire, por favor, eu tenho mãe!", me borrando de medo do cara pensar que eu era um terrorista e que minha malinha era uma bomba. Ele riu, disse que eu tinha de voltar até o fim, da rua e entrar no último portão à esquerda - ou seja, ele já estava acostumado aos viajantes perdidos desse hostel desgraçado! :).
Basílica de São Pedro - Vaticano
Bom, encontrado o hostel, era só pôr o cartão para abrir a porta. e lá fui eu, uma, duas, três, mil tentativas. NADA! o cartão não abria a porta. Olhei prum lado, um escritório fechado, pra frente, entulho, pra rua, o frio. Liguei pro hotel, o indiano disse que não podia fazer nada por mim porque ele estava sozinho na recepção e não poderia sair pra ir abrir a porta pra mim, que eu ficasse tentando, que ele tinha ouvido um clique! E eu prestes a lhe dizer exatamente que clique foi o que ele tinha ouvido. No final das contas, quando eu já tinha resolvido dormir ali mesmo nos degraus, o cartão funcionou. Eu entrei no apartamento e para acessar o quarto, imaginem, o mesmo cartão que não funcionava. Lá fui eu de novo. Quando enfim consegui, sentei na cama e chorei, chorei como um bebê agarrado às minhas malas, chamando por Deus e todos os santos, o coração ardendo, o rosto ardendo, eu tremendo de frio e fome - tá bom, não chorei nem tremi, só queria fazer um dramazinho -, mas me agarrei às minhas coisas, à minha fè, fechei o olho e rezei pro sol nascer.
Praça de São Pedro - Vaticano
E quando ele veio foi que eu vi ainda mais claramente onde tinha me metido! Num quarto-chiqueiro com um
casal do leste europeu me olhando como se eu fosse um alien, um chinês tarado que não parava de olhar pros peitos da russa e uma pobre chinezinha que estava na mesma situação que eu, com uma cara mais assustada que a minha. Dei bom-dia a todo mundo, acessei a internet, procurei hostels na vizinhança, peguei minhas malas e me piquei correndo pro Yellow Hostel! Esse sim, isso que é hostel italiano! Lugar bacana, funcionários bacanas, todo mundo feliz, todo mundo jovem, tudo uma festa, quarto limpo, arejado, bem organizado. Meu Deus, obrigado pelo Google!
Eu e os Rodrigos no Vaticano
Deixei minhas coisas no hostel e me mandei a desbravar a cidade sob a luz do sol brilhante e sob o céu azul de Roma. Chequei meu roteiro e fui fazer minhas caminhadas até o Coliseu, Forum Romano (passei o dia todo entre os dois, pois é muita coisa pra ver lá dentro). Ao cair da noite, revigorado pelas descobertas, cheio daquela sensação de "Vine, Vide, Vinci" que tinha me possuído desde que entrei no Yellow, voltei pro hostel para conhecer duas das maiores figuras que encontrei
até agora em minhas viagens: dois chilenos muito engraçados e muito gente boa chamados Rodrigo, sim, os dois são Rodrigo, e de lá partimos juntos para conhecer La Città Eterna de noite. Sempre aproveitem a oportunidade de sair a visitar as cidades e os pontos turísticos à noite, especialmente em épocas de festa, como no Natal, você se surpreenderá com a beleza dos monumentos.
Ficamos pela rua até de madrugada e nesse meio-tempo combinamos a ida ao Vaticano. Um dos Rodrigos
Dentro da Basílica de São Pedro
Membro da Guarda Suíça
tinha sido seminarista e conhece muito da história da igreja e de Roma. Íamos passeando e ele nos contando as histórias e explicando os rituais, os motivos disso e daquilo. Foram horas de grande aprendizagem, de experiências inusitadas como a de passar o Natal num frio lascado, assistindo à Missa do Galo, sentado de frente à Basílica de São Pedro, em pleno Vaticano, celebrada pelo Papa Francisco em pessoa, e nós ali, ao vivo e a cores! Na ocasião também, conhecemos um brasileiro chamado Luiz que está fazendo mestrado em Budapeste e que veio a Roma pro Natal. Ele, assim como eu e os Rodrigos, com um olho na missa e outro ao redor, pensando que de repente (apesar da incrível segurança feita pela polícia e exército) uma bomba pudesse explodir. Mas graças a Deus, como disse Luiz, "eles não seriam tao óbvios".
O Papa disse seu "Ite, Missa Est" e nós fomos pelas ruas da cidade sem achar metrô, nem táxi, nem ônibus - Niente! nada funcionando. Mas, a noite é uma criança, gelada, mas uma criança. Fomos caminhando, conversando, cantando na chuva gelada que caía até que chegamos num cruzamento e a Luz apareceu. Uma mexicana que tinha ido ver a Missa do Galo e que tinha se perdido sem transporte nenhum pra voltar pro hostel com sua amiga. Como já conhecíamos o trajeto pela cidade, guiamos a Luz pelo caminho iluminado de Roma e a deixamos sã e salva. E tudo, tudo mesmo ficou uma beleza na noite não mais tão gelada da Itália.
Mulher romena jovem fingindo ser
velha para esmolar - Vaticano
Forum Romano
Mais uma vez, as frases do meu tio Jaime vieram fazer eco em minha cabeça: "No final tudo dá certo, se não deu certo, é porque não chegou no final"
Só um alerta: Não se hospedem no hostel Carlitos em Ro
ma, as fotos na internet e no booking.com são um embuste! Depois eu postarei o vídeo que fiz do trajeto até ele.
Gostaram? Então divulguem! Valeu, galera! Feliz Ano Novo na paz e no amor de Deus!
Planejar o roteiro em Lisboa é muito fácil, uma
vez que coisas para ver e fazer são o que não faltam. Primeiro, porque Lisboa é
uma cidade muito antiga, cheia de monumentos e ruelas estreitas e longas a
serem explorados; segundo, porque ela é vibrante de dia e de noite com seus
bares, pastelarias, shows e apresentações em restaurantes e ao ar livre. Parece
que nunca há falta do que fazer e a cidade fervilha de vida.
Para começar o meu roteiro, fui ao Youtube
buscar alguns vídeos turísticos dentre os quais, me lembrei das famosas “Crônicas
do JH”. Toda a alienação da Rede Globo à parte, os correspondentes do Jornal
Hoje fazem matérias maravilhosas sobre os lugares onde eles estão (no final
deste post, porei os links para os vídeos e blogs que mais me ajudaram a
preparar meus roteiros na cidade de Fernando Pessoa).
Mapa de um dos meus roteiros no Google maps. Dessa forma
se pode calcular as distâncias entre os pontos turísticos.
Outra ajuda que tive na
preparação do meu roteiro veio do Google maps. Não apenas pela praticidade de
andar em 3D pelo percurso desejado e previamente saber onde iremos pisar (e o
que evitar), mas também por ajudar a calcular a distância entre um ponto no
mapa e outro e, desta forma, pouparmos tempo e dinheiro com locomoção. Em
Lisboa, como disse anteriormente, os pontos turísticos mais importantes estão
todos próximos do meu hostel e de lá, pude fazer quase todos os percursos a pé.
Aliás, como vocês já sabem, eu adoro andar
pelas ruas das cidades onde estou, pois assim tenho a sensação de pertencer ao
local e a oportunidade de ver coisas que não veria de dentro de um veículo,
tais quais placas indicativas de momentos ou personalidades históricos que
ocorreram ou viveram por aquelas ruas. Outro barato das caminhadas é poder
entrar em contato com as pessoas locais ou turistas e puxar um papo, sentar num
café, ouvir/ver um artista de rua (eles estão por todos os lugares na Europa). E em Lisboa, especialmente, caminhar pelas calçadas de pedrinhas brancas ou ruas
de paralelepípedos, subir as ladeiras centenárias e contemplar as milhares de
variedades de azulejos das fachadas das casas e casarões antigos é uma
experiência imperdível mesmo para quem vem de cidades de arquitetura
Barroca/Rococó no Brasil.
Um bondinho fazendo as vezes de elevador entre
a parte baixa e alta de Lisboa
Eu, que toda semana faço minhas caminhadas pelo
centro histórico de Salvador, não consegui perder a experiência. Mas, se você é
do tipo personagens humanos de Wall-y, não se preocupe, o sistema de transporte
integrado é muito bom e com um cartão para o dia (ou dias) você pode usar quase
todos os meios de transporte, e o valor será debitado apenas da primeira vez
que você o validar a cada dia.
Assim, pode-se ir de metro (metrô), comboio
(trem), autocarro (ônibus), elétricos (bondes), e... tuc-tuc! Sim, Lisboa está
cheia deles por todos os cantos turísticos! Motoristas muito simpáticos e
divertidos te levam a passear pelos cantos importantes da cidade enquanto te
divertem com histórias - mas atenção, não se pode dar umas voltas de tuc-tuc
com o mesmo cartão do metrô, você tem de pagar em dinheiro.
Eu, particularmente, evitei pegar transporte. Na
verdade, só peguei um elétrico no dia que fomos ao castelo São Jorge (outro
roteiro IMPERDÍVEL), porque meu amigo Johann - a quem não via desde o Réveillon2013/2014 em Paris,tinha vindo me visitar eia embora naquele dia, daí
precisávamos economizar tempo para explorar o centro lisboeta – o trenzinho faz
uma volta de 360 graus pelo Centro, se você estiver com pressa, vale a pena. Mas
eu continuo recomendando a andada...
Ponte de Lisboa vista do Cristo Rei
Durante os dias que fiquei em Lisboa, pude
conhecer gente muito simpática e cortesa e ver lugares de encher a vista. A
propósito, depois de duas meninas canadenses que estavam em meu hostel me
explicarem o que significa “uma cidade romântica”, eu pus Lisboa entre as 10
mais que já conheci.
Arco da Rua Augusta
Uma andada pelas ruas e becos estreitos da Alfama, por
exemplo, ao cair da tarde, ouvindo o som do fado português cantado do mais
profundo da alma, os sobrados coloridos com roupas penduradas à janela recebendo
o frio da noite, amigos, casais, moradores sentados às portas de casa ou dos
cafés, rindo e se enamorando aos sons das notas melancólicas da música sentida
no fundo do coração, e as noites claras de lua ou de estrelas, nos dão a
sensação daqueles filmes românticos que fazem nossos olhos marearem. É como ver
Collin Firth descendo as escadarias, com a multidão a segui-lo, na noite de
Natal para pedir a mão de Lúcia Muniz em casamento enquanto a multidão,
encantada,
o ovaciona em “Love Actually”. Ou então, sentar-se no cais do Sodré nas
primeiras horas do dia ou ao pôr do sol e contemplar a luz da cidade com um
café quentinho às margens do Tejo, sobre o qual também podemos passear numa
barca de uma à outra margem do Rio (a caminho do Cristo Rei) sentindo o marolar
das águas e o vento fresco acarinhar nossas faces – indico a experiência (mas
quanto ao cais, embora seja maravilhoso, precisarei quebrar o clima de
romantismo, pois é válido um alerta: uns vendedores com vários óculos nas mãos
se aproximam de você e dizem: “óculos”, quando você diz que não os quer, eles
“dão o doce”: “haxixe, coca, marijuana?”. Se você não se interessa pelo
material, feche a cara e mande eles vazarem; se se interessa, faça o mesmo,
pois, segundo vários portugueses com quem conversei, o que eles vendem é
qualquer coisa, menos o anunciado. Razão pela qual eles só vendem aos turistas
e porque a polícia não os prende – pois, se não vendem drogas, não podem ser
presos por porte de drogas. Não existe lei em Portugal que prenda gente por
vender chá e talco. Estão querendo criar uma lei para enquadrá-los, mas ainda
estão no projeto. Então, esqueça os vendedores de ervas e vá relaxar pelo cais
e admirar a vista, sem se esquecer de ficar atento aos seus pertences, não é o
Brasil, mas a galera bate sua carteira se você vacilar.
Pastéis de Belém com um McCafé pra esquentar
Ali próximo ao Cais você encontra outro grande
símbolo de Lisboa, uma maravilha arquitetônica e centenária que é o Arco da Rua
Augusta. De cima do Arco se tem uma
vista magnífica (aliás, de qualquer lugar da cidade se tem uma vista magnífica,
porque Lisboa é simplesmente magnífica!). Depois de contemplar a lindeza do
lugar, fotografar muito, se inspirar muito, aproveite pra fazer uma boquinha. Foi
por lá também, próximo ao Arco, que comi um dos melhores pratos com bacalhau da
minha vida! Comer o Bacalhau ao Brás é condição sine qua non para quem está em Lisboa e nessa região, cheia de
restaurantes e quiosques, você será muito bem servido – outras coisas que você
não deve deixar de experimentar são as famosas francesinhas, os pastéis de nata
e os doces de ovos da Confeitaria Nacional. Me deliciei com eles.
Torre de Belém
Quando for à
Torre de Belém,
reserve tempo para os famosos pastéis de Belém, na “fábrica” de
pastéis – uma lojinha muito bem arrumada e aconchegante, porém lotada de
turistas e locais, então, entre na fila, espere um pouco e coma, coma muito,
pois é delicioso! Me lembro de Johann dizendo: “todo lugar que vou (Brasil,
Macau...) sempre procuro pelos pastéis, mas tenho que confessar que estes são
imbatíveis”, e também ajudam a nos dar a energia necessária para subir e descer
as ladeiras.
Tuc-tuc no centro de Lisboa
E por falar em subir, o Elevador de Santa Justa,
como ouvi um turista brasileiro falando enquanto esperávamos na fila, “é como
se fosse o Elevador Lacerda deles”. Não tiro sua razão, pois ambos ligam as
duas partes da cidade e de ambos a vista é extasiante. Prefira ir ao Elevador (português)
de manhã por volta das dez ou à tarde antes do pôr-do-sol por causa do efeito
da luz sobre o Tejo, suas fotos vão ficar incríveis! Depois disso, você tem
duas opções: ou vai dar um passeio contemplativo pela Misericórdia e Alfama, ou
vai para o Chiado e o Bairro Alto. Dependendo das suas inclinações, todas as
escolhas levam à satisfação em cem por cento.
Talvez seja mesmo esta a expressão certa para
terminar o post: Lisboa, para quem gosta de turistar, é a satisfação em 100%. Pois,
por cá, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Desta vez eu comecei a planejar a viagem com
dois meses de antecedência. Procurando no decolar.com por voos baratos para a
Europa, pois já havia cansado de buscar por voos nacionais e encontrado valores
absurdos como SSa-SLZ R$1245,00 a ida ou R900 SSa-Goiânia também só a ida.
Queria
viajar pelos dois meses de férias que tenho a partir do final do ano e relaxar
a cabeça dos concursos para os quais tenho estudado, e, viajar no Brasil,
infelizmente, é impossível para mim devido aos preços absurdos de passagens,
hospedagens e alimentação – por incrível que pareça, os
ricos viajam no Brasil
e os pobres pela Europa! Bom, deixando as queixas de lado, na mesma ocasião
que comecei a comprar os voos e fazer os roteiros, iniciei as reservas dos
hostels (pelo booking.com http://www.projeto101paises.com.br/)
e dos quartos pela airbnb – a antecedência, especialmente nos períodos de
férias, faz os preços melhores e garante um lugar ao sol pra vc.
Passagens nas mãos, reservas feitas, era jogar
os panos dentro da mala e aguardar o dia. Mas eu sou eu, né?! Como de costume,
deixei pra arrumar a mala faltando apenas 3 horas para o embarque enquanto o
pessoal no Whatsapp me chamava de maluco e minha mãe me dizia que eu “ia acabar
largando o passaporte em casa”. Mas não é bem assim. Embora eu seja daqueles
nossos que deixam tudo para a última hora, durante a(s) semana(s) que
antecede(m) a viagem, eu vou fazendo uma lista, bem organizada, com todos os
itens que preciso levar. Aí, na hora de pôr a mala em ordem, é só ler o que
escrevi e tudo fica prontinho em menos de 20 minutos.
Uma última conferida na lista, tudo estando
ticadinho, era meter o cadeado e partir rumo ao aeroporto Internacional de
Salvador, rever aquela avenida única coberta de bambus dos dois lados lembrando
os dias da IIa Guerra Mundial. Mas ninguém lembra de guerra quando está com a
família no carro de olhos mareados e conversas agradáveis. Dalí pra frente era
só beijar e abraçar todo mundo e cair fora em direção ao balcão da TAP –
Lisboa, cá estou, pois pois!
As 8 horas de viagem de Salvador a Lisboa foram
longas. Não consigo dormir quando estou em viagem, e ver filmes na telinha de
bordo não faz a minha cabeça. No entanto, neste voo, eles estavam
passando
vários capítulos da série “Divã”, com Lilia Cabral, uma de minha atrizes
favoritas. Fui distraindo até dormir – mais ou menos dormir, porque a o voo foi
muito turbulento, com direito a relâmpagos e muito, muito waka-waka. Os comissários
de bordo tiveram de suspender o serviço de refeição por duas vezes. Agora
pensem em vocês no meio do Atlântico, chacoalhando feito a Shakira e com a
barriga roncando como o rosnar de um cachorro feroz – pânico no céu, mas no
fim, sempre no fim, tudo dá certo e poucas horas depois, estávamos todos sãos e
salvos em solo português com o piloto recebendo aplausos dos passageiros em êxtase
de alívio por não terem ficado boiando sobre as águas negras do Atlântico.
Na saída do desembarque internacional, terminal
1 – que é onde os voos da TAP chegam -, diante do portão, vá para a direita. Ali
haverá um balcão de informação, em frente dele uma casa de câmbio (sugiro que
não troque dinheiro em casas de câmbio nos aeroportos), do lado desta um café
bem agradável. Se não quiser informação, grana ou café com pastéis (que são bolinhos
como nossas empadas ou quiches – mais ou menos), saia, siga sempre à direita e,
em frente às escadas rolantes, verá três portas automáticas que te levarão ao
metrô.
Jantar TAP
Mapa das Linhas do Metro de Lisboa
O acesso ao centro de Lisboa pelo metrô é muito
bom, você tem linhas e conexões para todos os lugares, só precisa ficar de olho
nos horários. São quatro as linhas: azul, vermelha, amarela e verde. Há também
autocarros (ônibus), comboios (trens) e balsas que complementam o serviço e os
quais você pode pagar com o mesmo tíquete que você comprou no metrô – uma tarifa
é válida por 24 h. a partir do momento que você usou o cartão pela primeira vez
– trocando em miúdos, com a tarifa de um dia, você pode andar em quase todos os
meios de transporte por 24 horas, basta apenas tocar o cartão nos validadores. Eu
comprei um cartão para sete dias por 42,50 euros – lembrando que você pode
fazer quantas viagens quiser utilizando os serviços de transporte público
integrados por 24 horas a partir da primeira validação (o cartão é recarregável
em caixas eletrônicos espalhados pelos terminais do metrô (aqui pronunciado “metro”)
e outros terminais.
Johann conversando com o canário
Isso feito, hora de me perder na estação. Não,
não é difícil, é minha inteligência espacial que é lenta mesmo. Sempre me perco
mesmo com o mapa na mão. Mas vai lá, minha avó sempre me disse que quem tem
boca vai a Roma, ir ao centro de Lisboa, estando em Lisboa deve ser bem mais
fácil. O problema é o receio de receber as respostas das pessoas às suas
perguntas com sotaque estrangeiro nessa época tumultuada de imigrações e
ocupações ilegais. No entanto, para minha surpresa, as pessoas foram SEMPRE
extremamente gentis comigo, algumas delas até se importaram em me levar
diretamente aos lugares onde eu queria ir, chegando a caminhar por 10-15
minutos! Bravo, Portugal!!!
Praça Camões - Lisboa
Digressões à parte, uma das pessoas que me
ajudaram a encontrar meu caminho, inclusive ligando para meu hostel, foi uma
soteropolitana chamada Ana, cujo filho chegou da Bahia no mesmo dia que eu. Ela está
morando aqui há 8 meses já e seu menino – um rapazinho de 15, 16 anos - veio
ficar com ela. Foi lindo ver a felicidade explodindo entre os dois, e mais
lindo ainda ouvir as palavras de carinho em baianês “oh, neguinho de mainha,
foi tudo bem?”. Mais dois brasileiros fugindo da violência que nos assola –
lembro que ela me disse: “o que me faz gostar de Lisboa, entre outras coisas, é
poder andar com meu celular na rua a qualquer hora do dia ou da noite sem
precisar de escondê-lo na minha roupa”.
Triste verdade! Mas fiquem de olho! Há
roubos em Portugal. Especialmente praticados por imigrantes do leste europeu. Eles
te cercam e levam suas coisas sem você perceber, daí haver vários anúncios espalhados
nas linhas de trem, metrô e elétricos te alertando sobre os “carteiristas” – a diferença
é que ninguém vai te esfaquear ou te dar um tiro pra levar as suas coisas - (obs.
aos seguidores de Pasquale Neto antes que me corrijam o uso de pronomes e
possessivos no parágrafo em questão: eu sei a diferença entre tu/você, teu/seu J ).
Lisboa - me lembrando as ruas
de São Salvador da Bahia
A minha estação final é a Baixa-Chiado, na qual
eu cheguei com um alívio maravilhado, pois, ao despontar no Largo do Chiado, me
senti em casa. Era como se andasse em Santo Antônio Além do Carmo, no Pelourinho,
na Ribeira... aquelas casas lindas, sobrados de 200, 300, anos, com fachadas em
azulejo, as calçadas cobertas de pedras portuguesas como várias ruas em
Salvador TINHAM (até um idiota de um engenheiro resolver tirá-las na
restauração de alguns pontos turísticos importantes e trocá-la por cimento com
pedacitos de mármore – sorte que a idiotice dele ainda não afetou o centro
histórico e algumas ruas antigas) e, sobretudo, aquelas ladeiras enormes que
nos levam a todos os lugares, eram simplesmente como Salvador.
Miradouro de São Pedro de Alcântara
Aliás, o projeto
de SSa (São Salvador, por isso dois “S”) era criar uma Lisboa fora de Lisboa,
igualzinha, por isso tanta semelhança entre essas duas cidades. Ao encontrarem
tantas colinas, tantos altos e baixos, eles devem ter tido a mesma sensação que
eu, a diferença é que eles tinham quem carregasse suas malas, eu, por minha
vez, tive de ir arrastando minha mala ladeira acima, nas calçadas de pedras
portuguesas que eu tanto amo, fazendo um barulho enorme das rodinhas contra a
brancura das pedras.
Pombos tomando banho no
Largo de São pedro de Alcântara
Meu hostel fica de frente ao Miradouro de São
Pedro de Alcântara. Lugar maravilhoso, com uma vista que te deixa sem ar, e
convenientemente a pouca caminhada de quase todos os pontos turísticos imperdíveis,
estações de metrô e os bondinhos que levam as pessoas pelas ladeiras enormes.
Mas mesmo que não fosse perto, teria valido a hospedagem só pela arquitetura do
hostel e pela caminhada pelas ruazinhas da vizinhança.
Agora era só registrar e partir em busca das
aventuras que a terrinha lusitana tem a oferecer – sobre isso falaremos em
outros posts, pois este
aqui já está grande o suficiente.
Gostou? Então divulgue!
Vista do Castelo de São Jorge, Lisboa - (foto: Johann Morriseau)
A gastronomia francesa
é uma das mais celebradas do mundo. Seus pratos variam desde os exóticos aos
mais ordinários, aos fast-foods americanos. Daí ela ser boa para todos os
gostos e todos os bolsos.
Mesmo quando viajando com a grana curta, como eu,
sempre tem espaço pra comer bem e, estando com amigos, dividir a conta de
queijos, vinhos, baguettes, croissants, etc. sempre é uma boa ideia.
O pão, por exemplo, é
uma parte indispensável da gastronomia francesa. Qualquer refeição que se preze
na França tem de ter pão de entrada. Foi isso que descobri na casa de Johann
nos dias que estive lá. Por isso, logo que saímos dos arredores da Torre Eiffel
em direção à casa do meu amigo, Johann me disse que era necessário passarmos
antes numa boulangerie (padaria) para comprarmos pão para o almoço. E lá fomos
nós, dirigindo pela bela cidade até chegarmos a um lugarzinho pequeno, com
gente supersimpática e sorridente que mal ouviu meu sotaque, me perguntou:
"Tu viens d'oú?", quando eu disse que vinha do Brasil, os sorrisos se
alargaram, os olhinhos brilharam e a atendente, que também era caixa, me disse:
"Riô!", a que eu logo bradei na mesma empolgação: "Salvador de
Bahiá!", ela, percebendo uma disputa territorial, jogou mais lenha na
fogueira: "Corcovadô" ao que eu respondi sorridente: "Elevador
Lacerdá", e assim ficamos falando de monumentos e atrações das duas
cidades por mais uns dois minutos, até que seu estoque de palavras cariocas
acabaram e ela me disse: então, quantas baguettes? Eu, doido pra continuar
falando da Bahia, olhei pra ela e respondi meio que mordendo a boca: duas, por
favor", ela sorriu, pegou o dinheiro, registrou e, com a mesma maozinha,
foi à prateleira e pegou os meus pães, sem cerimônia nenhuma. segurou meu ranguinho
com as mãos de uma manhã toda de dinheiro, coçadinha de cabeça, apertos de mãos
e sabe-lá-Deus-o-que-mais. Ela me entregou o pão, com um sorriso tão meigo e
eu, sorrindo amarelo, agradeci, olhei pra o meu amigo como que perguntando:
"vamos assar esse pão, bem assado, né?". Mas ele, não entendendo
minha cara, me disse enquanto ajeitava as baguettes em meu sovaco:
"debaixo do braço, Marciô, põe debaixo do braço". E lá fomos nós
almoçar um delicioso guisado francês com o paozinho cheiroso de entrada.
Sempre antes de
comermos, arrumava-se a mesa com pratos, garfos, geleia e manteiga, e
conversávamos enquanto nos deliciávamos no pão francês. Os restaurantes também
são a mesma coisa. Neles, quando o pão acaba, os garçons servem mais, e mais, e
mais até você ir embora. Você pode ir almoçar num restaurante e garantir seu
café da manhã por uns três ou quatro dias (brincadeira!).
No dia seguinte, eu encontrei
meus amigos Fabrício e Gabi para uma aventura à la Woody Allen em Paris. Gabi
tinha feito um roteiro de passeio baseado, na maior parte, no filme
"Meia-noite em Paris", sem esquecer de incluir algumas peculiaridades
como a visita à rua mais charmosa do mundo (porque a mais bonita fica em Porto
Alegre!), às catacumbas (mas isso fica pra um outro post) e a quatro pontos que
muito nos interessam aqui: L'as du Fallafel (o melhor Fallafel de Paris"),
L'artisan Boulanger (a melhor baguette do ano), Ladurée (os melhores macarrons
da cidade) - chequem aqui:
http://www.projeto101paises.com.br/2014/07/paris-5-lugares-para-sair-um-pouco-do.html
-, e McDonald's (porque era na Champs Elysées e nós estávamos com pressa e
vontade de tomar um café quente com batatas fritas, e eu estava afim de fazer
uma graça com vocês, leitores).
Pois bem, fomos os três
ao Fallafel, que fica num bairro judeu em Paris, e lá, por causa da fama do
local, tivemos de esperar algum tempo na fila, no frio e na chuva para comer.
Foi uma espera longa, uma espera roncadoura, mas valeu a pena. Os garçons
sempre muito cordiais, servindo pão pra gente o tempo todo. Um dos garçons,
David, ao saber que éramos brasileiros, ficou todo prosa, puxando assunto
sempre que conseguia chegar à nossa mesa. Foi ele, por sinal, que me informou
que a base da refeição francesa era o pão, depois que eu, acostumado com os
restaurantes brasileiros, perguntei se a gente ia ter de pagar por aquela
padaria toda. Ele me disse que ficasse despreocupado porque na França, o pão e
água nos restaurantes são de "graça" (as aspas são minhas). Bom, ele
trouxe o menu e aí, o papai aqui, seguido por Fabrício, foi inventar de pedir o
Fallafel no prato - Gabi pediu um cone tipo Mcwrap por metade do preço. Quando
os pratos chegaram, a gente, morrendo de fome, caiu matando, mas não conseguiu
comer nem a metade! O prato era tão bem servido que não aguentamos terminar.
Bem fez Gabi: comprou uma porção menor, pagou metade do preço e não deixou nem
um tiquinho pra contar história. Avisados, brazucas do olho maior que a
barriga, só comprem o prato de Fallafel se vocês aguentarem comer até o fim!
Saímos felizes e pesados
do restaurante para caminhar pelas ruas de Paris – sim, mais uma caminhada!
Paris é linda, um lugar onde se caminha sem perceber o tempo passar e se queima
calorias com gosto de vanguarda. Caminhamos tanto, tiramos tantas fotos, vimos
tantos monumentos e tudo o que a Cidade Luz tem a nos oferecer que quando demos
por nós, já era ora de comer novamente. Caí na ponga dos Globe Trotters e
partimos para uma ruazinha normal como qualquer outra, em busca de uma padaria
cuja baguette tinha sido eleita a melhor do ano. A incumbência de comprar o tão
desejado pão coube a mim. E eu, de olho na vendedora, fiquei prestando atenção
se ela
pegaria o dinheiro e depois a baguette! Mais non, Monsieur! Oh là là!
Quem trazia o rango era uma outra pessoa. E eu, sorri aliviado!
Saí com meu pãozinho
debaixo do braço para encontrar meus amigos que já me esperavam com o queijo
que havíamos comprado no caminho. E lá fomos nós, eu com minha mão de dinheiro,
de poste, do cachorrinho bichon frisée que eu tinha acarinhado mais cedo,
pegando o queijo, abrindo a baguette e fazendo nosso sanduiche! Viva Paris!
Bravo, Marciô! Sem nojentices! E o incrível é que ninguém pegou verme nem ficou
doente. Paris é mesmo uma festa, uma mágica.
No dia seguinte, fizemos
tudo o que um turista faz quando tem um roteiro bem organizado nas mãos. Almoçamos
carneiro assado na vertical num restaurante turco – uma delícia! Mas não me
lembro do nome. E ao cair da noite, encontramos o Johann para fazermos o
trajeto de Owen Wilson no filme de Allen, vimos a universidade de Direito,
andamos até a igreja onde o carro psicodélico-sessão-espírita pega ele, e fomos
comer debaixo daquela névoa fria que tocava nossa cara como um beijo de
ice-kiss. Nosso destino era o Ladurée, um restaurante especializado em
macarrons.
Diante da entrada, me
lembrei de uma cena do filme “Splash – uma sereia em minha vida”. Tom Hanks dá
um presente para Deryl Hanna, todo embrulhadinho, e ela diz que é lindo, com a
maior cara de felicidade, até que ele lhe pede que abra o presente e a sereia
pergunta: “tem mais?!”. É bem essa a sensação. Você entra no Ladurée e se sente
transportado a algum lugar do passado, do chic, do delicioso gosto de macorrons
de todos os sabores tocando seus beiços vorazes, enchendo sua boca faminta,
descendo saborosíssimo por sua goela enquanto um café delicioso, quase
brasileiro, esquenta a noite. Mas, além disso tudo e da companhia dos meus
amigos, estar naquele lugar pomposo à noite, ouvindo as risadas vindas das
conversas alegres e animadas lá dentro, olhando aquela avenida histórica lá
fora reluzindo com as luzes do Natal, me fazia sentir especial, contente e de
barriga cheia.
Quanto ao McDonalds, ele
estava lá, em todo o canto que nós íamos, todos os dias, oferecendo suas
gordices às pessoas que por lá passavam. Mas eram umas gordices com valor menor
que outros lugares e com café e leite num copão de quentura bem-vinda contra o
frio. Eu, particularmente, me esbanjava no café barato deles. Sentindo aquele
calorzinho gostoso nas minhas mãos por debaixo das luvas, mas, geralmente,
apesar de às vezes comer uma porção de batatas fritas, eu preferia ir com meu
cafezinho comprar uma salsicha alemã ou polonesa que estavam sendo vendidas ali
bem ao longo da Champs. Ou então, provar uns croissants em alguma boulangerie,
sentado no passeio, conversando sobre nossas aventuras, ou comer um crepe
gigante cheio de Nutela, me fazendo lembrar o beiju de chocolate amargo com
banana que eu faço quando estou em casa.