sábado, abril 30, 2016

Europa em 60 dias - De volta pra casa



Deixar Portugal é uma experiência dolorosa. Esse país de tantos lugares lindos e pessoas gentis conquistou definitivamente meu coração e, pelo que vi ao redor, o de muita gente com as quais cruzei pelo caminho, de maneira que passei a acreditar que aquele antigo bordão da música de Frank Sinatra (I left my heart in San Francisco) poderia fácil fácil ser trocado por "I left all my being everywhere in Portugal" - sem exageros. 
Por isso, fazer as malas naquela manhã chuvosa e fria foi extremamente difícil. Cheguei à varanda do meu quarto no hostel, olhei o miradouro de S. Pedro de Alcântara, o castelo de S. Jorge ao fundo, os tuc-tuc passando pela rua, as pessoas caminhando com seus guarda-chuvas abertos contra os chuviscos gelados, as nuvens carregadas tornando o ar mais melancólico do que jamais tinha sentido. Fechei os olhos, deixei o vento frio regelar meu rosto, a chuva molhar meus cabelos, minha pele. Lembrei de António, o primo que encontrei em Ílhavo, cantando para mim e os acólitos da igreja quando estávamos no Fórum Aveiro um fado de Vinícius de Moraes que dizia assim: "O sal das minhas lágrimas de amor / Criou o mar que existe entre nós dois / Para nos unir e separar / Pudesse eu te dizer / A dor que dói dentro de mim / Que mói meu coração nesta paixão / Que não tem fim (...)". O som daquela voz maviosa, as palavras do Poetinha reverberando em minhas lembranças recentes me fizeram suspirar profundo. Encostei a enorme porta de madeira e vidros da varanda. Sentei no chão e comecei a arrumar as coisas. 
As camisas, calças, roupas de baixo, pareciam blocos de pedra sendo postos num muro intransponível
de uma saudade que se alargava dentro do peito. "A paixão que não tem fim" se  agigantava no coração a cada minuto em que pensava dizer adeus. Fechei as malas, pus os cadeados, encostei-as ao canto e saí para ver Lisboa pela última vez. No caminho comi um delicioso pastel de nata acompanhado de um café quentinho e fui andando na tentativa de memorizar cada rua pela qual passava, sentir cada cheiro de comida típica, deixar as marcas dos meus pés naquelas calçadas de pedras portuguesas, naquelas ruas de paralelepípedos, conhecer mais uma pessoa. Cheguei ao Cais do Sodré, contemplei o Tejo, a chuva cinzenta caindo sobre ele, o vento soprando incansável. Naquela hora o sol deveria estar reluzindo em Salvador, bem forte, sobre o mar azul da Baía de Todos os Santos, minha família e amigos deveriam estar se preparando para me receber à noite. Senti meu coração confortado - era hora de voltar. 
As malas pesadas, molhadas pela chuva, empacavam na ladeira de pedras. O esforço era enorme. Na estação uma das escadas rolantes - a mais longa - estava quebrada, tive de carregar as malas até a plataforma, para baixo nenhum santo ajudou. Eu estava pingando de suor. No metrô, pela última vez, vi entrar o ceguinho que tocava o triângulo e pedia esmolas. O sotaque dele nos vagões ressoando seu pedido de ajuda. Chegamos ao aeroporto. Despachei as malas. Sentei a escrever. Uma moça com sotaque bem conhecido me perguntou: "O voo para Salvador parte daqui, não é?" eu confirmei. Começamos a conversar e mais uma vez o mundo, mundo, vasto mundo, se tornava pequeno. Ela e sua mãe vinham da cidade de Eunápolis, onde eu morei por tantos anos. Começamos uma conversa em torno dos nomes de conhecidos - em cidades do interior virtualmente todos se conhecem. Ficamos ali nos fazendo companhia até a hora do embarque. Ainda teríamos 8 horas sobrevoando o Atlântico. 
Minhas conterrâneas sentaram-se bem à frente da aeronave, eu na última fileira - como de costume. Ao meu lado vinha um rapaz argentino que em férias visitava, com sua família, a Europa. Mais um companheiro de conversa surgia. Passamos horas falando de viagens, filmes, livros, e tantas coisas mais que todo o tempo de viagem nos permitiu. 
O avião desembarcou em Salvador, madrugada. o Sebastián e sua família ainda iriam enfrentar mais umas horas de voo até Buenos Aires. Nos despedimos, Minhas conterrâneas vieram ao meu encontro, nos abraçamos e partimos pelo corredor cinzento do aeroporto para reencontrar nossos entes queridos, no calor querido dessa cidade onde eu nasci. No coração ficava um travo de melancolia, de saudade das férias, das pessoas e lugares que conheci. Mas agora, era deixar isso passar e começar a programar as próximas férias, fazer "coisa de rico" como me disseram em janeiro. Mas será que você precisa mesmo de muito dinheiro para viajar?
Farol da Barra ao pôr-do-sol - Salvador, Bahia - foto da Internet.
Como viajar sem gastar muito
Tornou-se lugar comum para mim o ouvir as pessoas me chamarem de "Riquinho Rico" quando sabem que estou viajando, especialmente para o exterior. Ainda há no imaginário popular a ideia de que só quem tem dinheiro viaja, ou que você precisa de rios de Reais para poder sair do Brasil. É claro que com o aumento das moedas estrangeiras em relação ao Real as coisas ficaram um pouco mais caras pra quem ganha em moeda brasileira, mas um pouco de planejamento, força de vontade e priorizações fazem toda a diferença. 
Por exemplo, há pessoas que gastam centenas de reais todos os meses com manutenção de carro (combustível, reparo, etc.); outros gastam rios e fundos com engradados de cervejas, festas, noitadas; há também quem passe o ano pagando 10 mil Reais em camarotes de carnaval ou 2 mil por abadás de blocos; não nos esqueçamos também daqueles que torram 200 Reais em uma calça, 150 Reais num rodízio, 85 reais numa pizza grande. Mas se a gente pensar bem e começar a cortar os gastos supérfluos, vai se dar conta de que viajar para o exterior não é mais caro do que sair todo fim de semana. Tudo é uma questão de rever suas prioridades e se programar. 

Se seu destino for a Europa, por exemplo, você encontra voos internacionais pelo valor de uma pizza e ônibus pelo valor de uma lata de cerveja. Agora, exatamente, pesquisando voos https://www.ryanair.com/pt/pt/booking/home encontrei passagem entre Lisboa e Londres a 22.99 Euros. Com o câmbio a R$4.10, o valor da passagem de ida é exatamente R$122, 96 - mais barato do que muitas churrascarias ou pizzarias por aí. O Megabus http://uk.megabus.com/# está oferecendo agora viagem para Bruxelas por apenas 1 Libra (menos de 6 Reais). Há também passagens de trens por valores irrisórios. 

Mas aí você diz: tá certo, vou viajar de Dublin para Londres a 5 Euros (R$ 20.5), mas vou gastar o olho da cara com hospedagens. Mais uma vez não será preciso gastar muito dinheiro, talvez não seja preciso gastar dinheiro nenhum. Há uma comunidade internacional de viajantes, de todas as partes do mundo, que adoram hospedar pessoas em sua casa sem nenhum custo https://www.couchsurfing.com/. Basta você se cadastrar e cair na estrada. No entanto, se você não se sentir à vontade em dormir na casa de estranhos, pode se hospedar em hostels cujos preços vão variar a partir de 5 Euros, em alojamentos de grupos religiosos cristãos ou na casa de amigos. 
Comida também não é caro. Muito pelo contrário, ir ao supermercado e preparar seu próprio rango para o dia com frutas, pão, queijo, presunto, água e suco/chocolate/café sai a menos de 10 euros - para o dia inteiro! É só pesquisar e partir para o abraço! Outra coisa que barateia muito os custos é viajar com amigos não individualistas. Compartilhando você economiza horrores. 


Bom, fica aí a dica. Nos vemos na estrada nas próximas férias! 😎

Gostou? então divulgue! 

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