Mesa posra no Pallais du Versailles |
A gastronomia francesa
é uma das mais celebradas do mundo. Seus pratos variam desde os exóticos aos
mais ordinários, aos fast-foods americanos. Daí ela ser boa para todos os
gostos e todos os bolsos.
Mesmo quando viajando com a grana curta, como eu, sempre tem espaço pra comer bem e, estando com amigos, dividir a conta de queijos, vinhos, baguettes, croissants, etc. sempre é uma boa ideia.
O pão, por exemplo, é
uma parte indispensável da gastronomia francesa. Qualquer refeição que se preze
na França tem de ter pão de entrada. Foi isso que descobri na casa de Johann
nos dias que estive lá. Por isso, logo que saímos dos arredores da Torre Eiffel
em direção à casa do meu amigo, Johann me disse que era necessário passarmos
antes numa boulangerie (padaria) para comprarmos pão para o almoço. E lá fomos
nós, dirigindo pela bela cidade até chegarmos a um lugarzinho pequeno, com
gente supersimpática e sorridente que mal ouviu meu sotaque, me perguntou:
"Tu viens d'oú?", quando eu disse que vinha do Brasil, os sorrisos se
alargaram, os olhinhos brilharam e a atendente, que também era caixa, me disse:
"Riô!", a que eu logo bradei na mesma empolgação: "Salvador de
Bahiá!", ela, percebendo uma disputa territorial, jogou mais lenha na
fogueira: "Corcovadô" ao que eu respondi sorridente: "Elevador
Lacerdá", e assim ficamos falando de monumentos e atrações das duas
cidades por mais uns dois minutos, até que seu estoque de palavras cariocas
acabaram e ela me disse: então, quantas baguettes? Eu, doido pra continuar
falando da Bahia, olhei pra ela e respondi meio que mordendo a boca: duas, por
favor", ela sorriu, pegou o dinheiro, registrou e, com a mesma maozinha,
foi à prateleira e pegou os meus pães, sem cerimônia nenhuma. segurou meu ranguinho
com as mãos de uma manhã toda de dinheiro, coçadinha de cabeça, apertos de mãos
e sabe-lá-Deus-o-que-mais. Ela me entregou o pão, com um sorriso tão meigo e
eu, sorrindo amarelo, agradeci, olhei pra o meu amigo como que perguntando:
"vamos assar esse pão, bem assado, né?". Mas ele, não entendendo
minha cara, me disse enquanto ajeitava as baguettes em meu sovaco:
"debaixo do braço, Marciô, põe debaixo do braço". E lá fomos nós
almoçar um delicioso guisado francês com o paozinho cheiroso de entrada.
Sempre antes de
comermos, arrumava-se a mesa com pratos, garfos, geleia e manteiga, e
conversávamos enquanto nos deliciávamos no pão francês. Os restaurantes também
são a mesma coisa. Neles, quando o pão acaba, os garçons servem mais, e mais, e
mais até você ir embora. Você pode ir almoçar num restaurante e garantir seu
café da manhã por uns três ou quatro dias (brincadeira!).

Saímos felizes e pesados
do restaurante para caminhar pelas ruas de Paris – sim, mais uma caminhada!
Paris é linda, um lugar onde se caminha sem perceber o tempo passar e se queima
calorias com gosto de vanguarda. Caminhamos tanto, tiramos tantas fotos, vimos
tantos monumentos e tudo o que a Cidade Luz tem a nos oferecer que quando demos
por nós, já era ora de comer novamente. Caí na ponga dos Globe Trotters e
partimos para uma ruazinha normal como qualquer outra, em busca de uma padaria
cuja baguette tinha sido eleita a melhor do ano. A incumbência de comprar o tão
desejado pão coube a mim. E eu, de olho na vendedora, fiquei prestando atenção
se ela
pegaria o dinheiro e depois a baguette! Mais non, Monsieur! Oh là là!
Quem trazia o rango era uma outra pessoa. E eu, sorri aliviado!
Saí com meu pãozinho
debaixo do braço para encontrar meus amigos que já me esperavam com o queijo
que havíamos comprado no caminho. E lá fomos nós, eu com minha mão de dinheiro,
de poste, do cachorrinho bichon frisée que eu tinha acarinhado mais cedo,
pegando o queijo, abrindo a baguette e fazendo nosso sanduiche! Viva Paris!
Bravo, Marciô! Sem nojentices! E o incrível é que ninguém pegou verme nem ficou
doente. Paris é mesmo uma festa, uma mágica.
No dia seguinte, fizemos
tudo o que um turista faz quando tem um roteiro bem organizado nas mãos. Almoçamos
carneiro assado na vertical num restaurante turco – uma delícia! Mas não me
lembro do nome. E ao cair da noite, encontramos o Johann para fazermos o
trajeto de Owen Wilson no filme de Allen, vimos a universidade de Direito,
andamos até a igreja onde o carro psicodélico-sessão-espírita pega ele, e fomos
comer debaixo daquela névoa fria que tocava nossa cara como um beijo de
ice-kiss. Nosso destino era o Ladurée, um restaurante especializado em
macarrons.
Diante da entrada, me
lembrei de uma cena do filme “Splash – uma sereia em minha vida”. Tom Hanks dá
um presente para Deryl Hanna, todo embrulhadinho, e ela diz que é lindo, com a
maior cara de felicidade, até que ele lhe pede que abra o presente e a sereia
pergunta: “tem mais?!”. É bem essa a sensação. Você entra no Ladurée e se sente
transportado a algum lugar do passado, do chic, do delicioso gosto de macorrons
de todos os sabores tocando seus beiços vorazes, enchendo sua boca faminta,
descendo saborosíssimo por sua goela enquanto um café delicioso, quase
brasileiro, esquenta a noite. Mas, além disso tudo e da companhia dos meus
amigos, estar naquele lugar pomposo à noite, ouvindo as risadas vindas das
conversas alegres e animadas lá dentro, olhando aquela avenida histórica lá
fora reluzindo com as luzes do Natal, me fazia sentir especial, contente e de
barriga cheia.

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