sábado, junho 30, 2018

Canto da saudade



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Imagem: Internet
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Parece que foi ontem
Que eu olhei seus olhos
- Profundo, demorado -
E você correspondeu.

Cada traço, poro, gota de suor
gravados na lembrança...
E a imagem de seus lábios
- Onde eu quis viver -,
A cada dia mais lindos,
Fazendo tremer meu corpo inteiro.

Ah! Quantos suspiros nascendo n'alma!
Quantas palavras caladas no peito!
Quantos "Não vá agora", "Só mais um minuto!"
Quanto sussurrar "Espere! não parta ainda!"
Tantos pudores e tantos medos.

Parece que foi ontem
Que eu senti no mais profundo
A flecha violenta, cruel, tremenda, ardendo,
Me incendiando todo, tudo,
Quando seus olhos se demoraram nos meus.

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Feels like yesterday
That I stared into your eyes
- deeply, lingering -
And you stared back.

Each feature, each pore, each drop of sweat
Seared in my memory...
And the image of your lips
- Where I wanted to for ever dwell -,
More and more beautiful every day,
Making my whole body tremble.

Ah! How many sighs springing from my soul!
How many words silenced in my bosom!
How many "Don't leave now", "Wait a little longer!",
How much whispering "Hold! don't go yet"!
How much propriety and fear.

Feels like yesterday
When I felt in the most hidden parts of me
The violent, cruel, overwhelming, ablazed arrow
Inflaming me whole, all of me,
When your eyes lingered into mine.

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Sembra essere stato ieri
Che ho guardato i tuoi occhi
- Profondamente, lentamente -
E tu m'hai corrisposto.

Ogni traccia, poro, goccia di sudore
incisi nella memoria...
E l'immagine delle tue labbra
- Dove volevo vivere -,
Ogni giorno più belle,
Facendo tremare tutto il mio corpo.

Ah! Quanti sospiri sono nati nell'anima mia!
Quante parole silenziose nel petto!
Quante "Non andare ora", "Solo un altro minuto!"
Quanto sussurrare "Aspetta, non andare ancora!"
Cosi tanti pudori e tante paure.

Sembra essere stato ieri
Che mi sentivo nel profondo
La freccia violenta, crudele, tremenda, bruciante,
Bruciandomi tutto intero,
Quando i suoi occhi indugiavano sui miei.
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sexta-feira, junho 22, 2018

Praga - A charmosa capital da República Tcheca


"Foram necessários seis acasos para levar Tomas até Tereza, como se, por conta própria, nada o tivesse conduzido até ela", diria o filósofo tcheco Milan Kundera em seu livro "A insustentável leveza do ser". No meu caso, foi preciso apenas uma promoção da Airbaltic, no momento certo, para me levar de Helsinque ao encontro de Praga, a charmosa capital da República Tcheca (ou da Tchékia, como a chamam agora). 

Já na saída do aeroporto, a neve caindo fina e rara sobre a cidade, a sensação era de puro encantamento. As imagens de filmes, fotos, blogues de viagens; as histórias de livros e narrativas de amigos que visitaram Praga, fervilhavam em minha cabeça. Dentro do trem que me levaria ao coração da Cidade Velha, eu via as construções passarem coloridas, suaves, e os rostos e corpos se moverem elegantemente pelas ruas limpas e organizadas.

Praga - a bela capital Tcheca
Uma imagem diferente da que eu costumava ter quando criança. Semelhantemente a "Budapeste", "Praga" era um nome que no fundo da minha cabeça infantil me remetia a um quadro catastrófico do leste europeu - "por que essas cidades tinham de ser conhecidas por palavras que, em português, eram tão ruins?". Eu me perguntava em pequeno lembrando das narrativas apocalípticas de pragas e pestes e fomes em toda a parte.

Além disso, a lembrança da diretora da minha escola no Ensino Fundamental entrando em sala para dar sermão toda vez que a turma se comportava mal e terminando sua lição de moral com a célebre e inesquecível frase, após a qual ela levantava a sobrancelha esquerda: "Que nosso padroeiro, o Menino Jesus de Praga, vos dê juízo", com certeza devem ter contribuído para meu estranhamento com a cidade.

Assim que saí do trem, esses pensamentos estranhos e intrigantes da infância logo cederam lugar a um deslumbramento cada vez maior, pois, com horas de procura no booking.com e paciência para buscar preço e lugar agradáveis, encontrei um hostel que ficava exatamente no coração da parte antiga da capital tcheca, na chamada Rota Real, de onde eu teria acesso a pé aos monumentos e sites turísticos mais badalados.

A rua em que se localiza o Hostel Little Quarter é em si mesma já uma atração por conta da diversidade de restaurantes, lojas de souvenires, mercadinhos e embaixadas que lá se localizam - incrivelmente o barulho eventual das ruas não interfere no silêncio dentro do edifício. 

Centro antigo de Praga, Tchekia
O centro antigo de Praga é uma mistura de construções barrocas e góticas que coabitam harmoniosamente nos transportando além do tempo por ruas de paralelepípedos e esculturas da fé católica espalhadas não só dentro das igrejas, mas em monumentos através das praças e pontes.

Destas, a mais famosa é a Ponte Carlos (Karluv Most, construída entre 1357 e 1402), a mais antiga do país, atravessando parte do rio Vltava, ligando a Cidade Antiga à Cidade Pequena (Malá Strana), considerado o bairro mais charmoso da capital tcheca, que abrigou a nobreza do país durante muito tempo, e onde está o Castelo de Praga.

É necessário passear pela ponte sem pressa, observando não só sua beleza arquitetônica ou o cenário deslumbrante que se tem da cidade, mas detendo-se pelo caminho para admirar a arte sacra representada nas 31 imagens dos santos e mártires e as dezenas de bancas de vendedores locais de onde se pode comprar não apenas quadros belíssimos e artesanato local, mas também conhecer a história marcada em cada pedra ao longo do caminho.
Ponte Carlos e Cidade Velha vistas da igreja de São Nicolau

Casario da  Cidade Velha à entrada da Ponte Carlos
A Ponte Carlos, por ser um dos mais famosos cartões postais de Praga, fica lotada de transeuntes, que tanto são pessoas locais, como turistas, e também mendicantes. Por isso, apesar de ser uma cidade com baixíssimo índice de violência urbana, é prudente guardar carteira e passaporte em lugar seguro e de difícil acesso às mãos rápidas dos raros, mas reais, larápios.

Do outro lado da Ponte fica Malá Strana, foi lá que eu saboreei duas das melhores e mais baratas (5 Euros) refeições dessa viagem. As ruas estreitas e cercadas de construções sóbrias e vitrines coloridas pululam de restaurantes, pubs e bares. Fui a dois ou três deles e o atendimento foi impecável. Aliás, diferentemente do que dizem do leste europeu, em Praga eu fui muito bem tratado por pessoas sempre muito gentis comigo.

Uma delas, vendedora de uma loja de souvenires, por exemplo, me fez sentir em casa de uma maneira muito insólita. Quando cheguei para comprar meus sine-qua-non imãs de geladeira, ela me perguntou de onde eu era e quando lhe respondi, ela, toda serelepe, gritou em português arranhado: "Eu amor Maria Betânia!" Aí, ao dizer que eu vinha da Bahia, assim como Betânia, ela disse que iria me dar um presente por conta da casa.

"Para o brasileiro da terra de Maria Betânia", disse passando à moça do caixa um enorme imã redondo que também serve de abridor de garrafas. Eu sorri, paguei pelas outras coisas e saí alegre e agradecido a Betânia por me representar ali naquele canto do mundo. Não satisfeita, ao me ver sair, a moça alegre e desinibida, pôs as mãos nas cadeiras e soltou em inglês: "Eu sou a Anita de Praga! Diga a seus amigos no Brasil!". Eu apenas ri, não sabia quem era Anita até a hora que voltei ao hostel.


Foi engraçado conhecer uma cantora brasileira por intermédio de uma moça da Tchekia. Anita para mim era um nome desconhecido, mas que em um só dia, ouvi três vezes por bocas de pessoas de nações diferentes. No hostel, ao me ver com uma camisa do Brasil, um rapaz coreano disse que era fã de Anita e me mostrou sua música favorita, a qual ele cantava (ou quase) em português.

Mais tarde, dois "conterrâneos" portugueses que estavam no mesmo quarto que eu também me falaram da carioca que estava fazendo sucesso pelo mundo e que eu, com minha cara de nerd fã de Arquivo X, nunca tinha visto mais gorda (ou mais "gostosa", como diriam os gajos de lá). E assim, descobri um pouco mais do Brasil quando estive longe dele e entendi que nesse mundo globalizado a indústria cultural, para fazer Adorno e Horkheimer se mexerem nos túmulos, é uma bênção!
Troca da guarda - Praga
Aproveitei minha estadia em Praga para encontrar meu amigo George. Nos conhecemos na adolescência através de uma daquelas comunidades do extinto ORKUT e desde então, por mais de dez anos, desenvolvemos uma amizade bacana.

Agora, casado e pai de uma menininha linda, o George deixou o dia de trabalho e me levou pra conhecer a parte nova da cidade onde há esculturas muito interessantes e o prédio mais famoso da República Tcheca, chamado de o Prédio Dançante.

A cidade nova é muito interessante de se ver, mas para mim, não difere muito de todos os outros lugares em qualquer cidade do mundo. O que eu gosto mesmo é ver o casario centenário, as igrejas antigas e sentir o cheiro de mofo dos livros e quadros - mesmo Praga conseguindo aliar o velho e o novo de forma tão perfeita.

Eu e George no confortável shopping center de Praga
Na capital da República Tcheca, especialmente na Cidade Velha, vem à mente uma frase marcante de A insustentável leveza do ser: "Tudo é vivido apenas uma vez e sem preparação". Apesar de todas as cidades serem mais ou menos parecidas, apesar das pessoas, a despeito de suas culturas e etnias, serem fundamentalmente iguais, em Praga não conseguimos nos preparar o bastante para fruir desse conhecimento sem algum estranhamento.

A sensação de proximidade humana e a ideia do blasé de estar inserido no contexto urbano universal não se sustentam. Parece mesmo que tudo é novo, sendo velho e antigo. Parece que cada passo sobre os paralelepípedos, cada olhadela sobre a tinta dos prédios, cada floco de neve caindo sobre o Cristo crucificado na Ponte Carlos, cada sorriso de estranhos que se reconhecem em nosso deslumbramento são coisas completamente novas.

O filósofo grego Heráclito estava certo, ninguém se banha no mesmo rio duas vezes. Em Praga, ninguém vê o mesmo Vltava, nem respira o mesmo ar, nem ouve a mesma música ou saboreia o mesmo prato duas vezes - tudo se renova como se ressoassem em nossa mente e se espalhassem pelo corpo as notas do Má Vlast de Bedrich Smetana - suave, espiritual, demasiadamente humano. 




O que fazer/ver em Praga em dois dias: Zaméky Schody, Matyasóva Brana, Prague Castle, Golden Lane, Velká jižní věž katedrály, St. George's Basilica e arredore, St Nicholas Church, Kafka Museum, Charles Bridge, The Bethlehen Chapel, Cidade Velha, The Powder Tower, Jewish Museum and Synagogue, Franz Kafka Monument, Prédio Dançante.

Clique nas palavras destacadas para saber mais. 

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